QUESTÃO DE TEMPO

Mais um Kennedy será "assassinado" nos EUA; entenda

Campanha na mídia estadunidense, que é paga pela Big Pharma e pelo Big Food, já começou.

Tudo por dinheiro.Kennedy denuncia que a indústria produz as doenças que exigirão tratamento da infância à morte.Créditos: Reprodução
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Donald Trump escolheu Robert F. Kennedy Jr. para ser seu secretário de Saúde e Serviços Humanos [HHS]. O cargo tem status de ministro.

Significa controle sobre agências importantes, como a que regulamenta alimentos e drogas (FDA), os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH).

Kennedy desistiu de sua candidatura à Casa Branca e entregou seus votos, "independentes", para garantir a substancial vitória de Trump nos estados do Cinturão da Ferrugem.

Assim que Kennedy foi oficialmente nomeado, passou a ser submetido a uma barragem de críticas por supostamente condenar o uso disseminado de vacinas e questionar o uso de flúor nos reservatórios de água que chegam à população estadunidense.

Advogado e ambientalista, ele de fato tem opiniões polêmicas sobre diversos assuntos -- malucas, diriam alguns.

Porém, não vai "morrer" exatamente por causa disso.

Lobby poderoso

Kennedy não deve durar muito tempo no cargo.

O motivo não tem relação com vacinas, nem com o flúor.

O político de extração democrata abraçou o enfrentamento a dois dos mais poderosos lobbies dos Estados Unidos, batizados de Big Pharma e Big Food.

O Big Food é formado pelas gigantes do setor de alimentação, que controlam praticamente tudo o que você compra no supermercado, mesmo no Brasil: Kellogg’s, Associated British Foods, General Mills, Danone, Mondelez, Mars, Coca Cola, Unilever, Pepsico e Nestlé.

A Big Pharma é composta por centenas de empresas, com destaque para Johnson & Johnson, F. Hoffmann-La Roche, Merck, Pfizer, AbbVie, Bayer, Sanofi, AstraZeneca, Novartis e Bristol Myers Squibb.

Kennedy foi influenciado pelos irmãos Casey e Calley Means, irmãos médicos que escreveram um livro que bombou nos EUA, no qual denunciam o conluio entre empresas alimentícias e farmacêuticas.

Grosseiramente: a indústria alimentícia adoece e a farmacêutica apresenta a solução, capturando pacientes cada vez mais jovens para tomar remédios pela vida inteira.

Os irmãos enfatizam que a indústria de alimentos de hoje, aquela que empanturra os estadunidenses com salgadinhos abarrotados de químicos, nasceu na transição da indústria do tabaco para outras fontes de lucro -- a RJ Reynolds/Nabisco, que inventou a marca de cigarro Winston, é a mesma que agora faz as bolachas Oreo. 

Os químicos "viciantes", fica sugerido, são os mesmos.

Merenda e drogas

O terceiro Kennedy vai "morrer", ao menos politicamente, por ter abraçado a ideia de que o Big Food e a Big Pharma se combinaram para adoecer os estadunidenses através da alimentação, para em seguida colocá-nos numa dieta de drogas que começa já na infância.

É, aliás, o tema do livro citado acima, que foi abraçado por trumpistas mas poderia ter sido escrito por esquerdistas do MST.

Kennedy quer reduzir o teor de açúcar na merenda escolar, banir os refrigerantes nas escolas públicas e aumentar a produção e oferta de produtos orgânicos. Ele aposta na alimentação como forma de combater as doenças.

Kennedy é contra, por exemplo, receitar a popular droga Ozempic na infância -- enquanto democratas como Bernie Sanders se concentram em atacar o preço da medicação e defender que ela seja adotada como uma questão de "direitos humanos" das crianças pobres e negras.

O sucesso eleitoral dos republicanos não é um acaso.

Assim como acontece com o SUS no Brasil, uma droga chancelada pelo governo dos EUA para programas federais "adquire" de imediato centenas de milhares de usuários para a toda a vida, garantindo o sucesso do medicamento.

Porta giratória

Depois da indicação oficial de Kennedy, as ações da Pfizer e da Moderna despencaram.

Ele foi às redes sociais dizer que pretende acabar com a porta giratória de empresários da saúde que servem ao governo, escrevem regulamentações que servem à indústria e depois voltam às empresas privadas -- o que também caberia no discurso de qualquer esquerdista:

Estou ansioso para trabalhar com os mais de 80.000 funcionários do HHS para libertar as agências da nuvem sufocante da captura corporativa, para que possam prosseguir a sua missão de tornar os estadunidenses mais uma vez as pessoas mais saudáveis da Terra. Juntos, eliminaremos a corrupção, acabaremos com a porta giratória entre a indústria e o governo e devolveremos as nossas agências de saúde à sua rica tradição de Ciência baseada em evidências e de padrão-ouro.

A mídia estadunidense, fortemente financiada pela Big Pharma e pelo Big Food a cada comercial de TV, já está prevendo que Kennedy será abatido em vôo.

Sem dúvida, é questão de meses.