De Baku, Azerbaijão -- Uma COP sem o presidente da França, em tese, perde sua dimensão global. Afinal, o Acordo de Paris foi resultado da COP21, de 2015, ratificado por 196 países.
Depois do Brasil, que já em 1992 foi sede da pioneira Eco-92, os franceses se orgulham de seu papel no combate à emergência do clima.
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Porém, 2023 foi um ano ruim para os franceses, marcado por rompimento de relações militares com ex-colônias da África, como Mali, Níger e Burkina Faso.
Paris ainda mantém soldados na Costa do Marfim, Senegal, Gabão, Djibouti e Chade, mas o sentimento anti-colonial na África está em alta.
O uso do cachimbo...
Porém, a França mantém orgulho similar ao do decadente império britânico, baseado na francofonia e no controle de territórios como o da Guiana Francesa, vizinha ao Brasil.
O presidente Emmanuel Macron se negou a participar da COP29 alegando que o Azerbaijão cometeu supostos crimes no conflito militar de 2023, nos disputados territórios de Nagorno-Karabakh/Artsakh, contra a vizinha Armênia.
A França defende a Armênia no conflito pelos territórios do sul do Cáucaso.
O que Macron não esperava é que o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, fosse reagir de maneira tão pública e eloquente.
Aliyev, que é co-presidente do Movimento dos Países Não-Alinhados, surgido dentre outros motivos para combater o colonialismo, usou boa parte de um discurso na COP29 para atacar a França.
Paris ficou irritada porque a fala recebeu aplausos:
O Azerbaijão está muito preocupado com a tendência crescente do neocolonialismo. O Movimento dos Não Alinhados, que foi criado como resultado do processo de descolonização, deve combater vigorosamente este vergonhoso legado do passado e contribuir para a sua total eliminação. Um dos países que ainda perseguem o neocolonialismo é a França. Os territórios administrados pela França fora da Europa são restos desagradáveis do império colonial francês.
"Cínico e nojento"
Aliyev passou a falar sobre as ilhas Comoros, Maiote e Nova Caledônia. Saudou um encontro de lideranças que pretendem autonomia em relação à França, que está acontecendo em Baku.
Relembrou o passado:
Quase 1,5 milhão de argelinos foram mortos durante o domínio genocida francês. Os capacetes dos combatentes pela liberdade argelinos ainda permanecem no Museu de Paris como troféus de guerra. Isso é cínico e nojento. Exigimos que o presidente Emmanuel Macron da França entregue à Argélia os restos mortais de seus heróis.
Ele foi além:
A França, que se apresenta falsamente como defensora dos direitos humanos e do direito internacional, ainda interfere nos assuntos internos de outros países. A recente retirada das tropas francesas do Mali e de Burkina Faso demonstrou mais uma vez que a ultrajante política neocolonialista da França na África está condenada ao fracasso. Infelizmente, a França está tentando impor a mesma má prática no Sul do Cáucaso, apoiando o separatismo armênio na região de Karabakh, no Azerbaijão.
Como resultado do discurso, a principal negociadora da França na COP29 desistiu de viajar para Baku. Os franceses, porém, mantiveram seus negociadores no Azerbaijão.
Ilha de Córsega
O presidente Ilham Aliyev não descansou.
Numa entrevista a uma emissora da China, ele atacou Macron mais uma vez.
O país que proíbe a língua corsu [da ilha de Córsega], que suprime brutalmente o movimento de autodeterminação na Córsega, defende a autodeterminação dos armênios em Karabakh. Como isso pode acontecer?
A França tomou a ilha de Córsega da Itália, no Mediterrâneo, em 1768.
Acusando a França de manter sua política colonial, Aliyev arrematou:
Durante a guerra, quando a agressão política estava além de quaisquer fronteiras, eu disse que se eles [os franceses] quisessem ter a “República de Nagorno-Karabakh” em algum lugar, eles poderiam tê-la em seu próprio território. Por exemplo, ao redor da cidade de Marselha, onde há tantos armênios. Deixe-os anunciar “República de Nagorno-Karabakh” lá, e nós a reconheceremos.