8 ANOS DEPOIS

"Hillary vence" ainda assombra os democratas; entenda

Trauma.A previsão exagerada, baseada em pesquisas, deixou os democratas traumatizados até hoje.Créditos: Reprodução New York Times
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Em 2016, a pesquisa final patrocinada pela agência Reuters, de grande prestígio entre os jornalistas, deu à democrata Hillary Clinton "90% de chances de vencer".

"Faltando poucas horas para os estadunidenses votarem", anunciou a agência, a empresa de pesquisas Ipsos previu vitória de Hillary por 45% a 42% no voto popular, com vantagem de 303 a 235 no Colégio Eleitoral.

O New York Times, por sua vez, no dia 18 de outubro de 2016, em sua página de previsão eleitoral, disse que Hillary tinha chance de vitória de 91%.

Hillary de fato venceu no voto popular, por menor margem (48,2% a 46,1%), mas Trump teve mais votos onde importava: nos estados pêndulo, que o levaram a vencer no Colégio Eleitoral por 306 a 232.

Em 2020, Joe Biden venceu Trump exatamente pela mesma margem no Colégio Eleitoral.

Porém, para conseguir isso, teve mais que o dobro da vantagem conquistada por Hillary em 2016 nos votos populares, cerca de 7 milhões.

Mesmo assim, foi o ano em que as pesquisas mais erraram em quatro décadas, superestimando os votos de Biden, na média, em 3,9%.

Os motivos foram muitos, mas há consenso sobre um dos principais motivos: os pesquisadores tem dificuldade em chegar aos eleitores de baixa escolaridade que vivem nas zonas rurais e votam em Trump em massa.

Escrevendo no New York Times, o estatístico Nate Silver explicou:

Os apoiadores de Trump tem menor envolvimento cívico e confiança social, por isso estão menos inclinados a responder a pesquisas. 

Para tentar driblar o problema, os pesquisadores passaram a ponderar os resultados considerando nível de escolaridade e até em quem o entrevistado votou no passado.

Paredão azul

A pior memória, para os democratas, é das previsões de que Hillary Clinton venceria em 2016 com a ajuda do chamado "paredão azul", mas naquela eleição Trump triunfou em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia.

O mesmo discurso está sendo feito agora, com uma pesquisa da universidade Marista sugerindo vantagem de Harris nos três estados, mas dentro da margem de erro.

Os republicanos também apontam para o efeito Bradley como possível motivo da distorção no resultado das pesquisas.

Em 1982, o prefeito de Los Angeles, o democrata Tom Bradley, perdeu a eleição para o governo da Califórnia, um estado liberal, de maneira surpreendente.

Os pesquisadores atribuíram a surpresa ao fato de que muitos eleitores brancos ficaram envergonhados de dizer que não votariam em um candidato negro, caso de Bradley.

Barack Obama desafiou esta teoria em suas vitórias de 2008 e 2012.

Porém, Kamala Harris é uma mulher negra.

Não por acaso, Donald Trump está repetindo em parte a estratégia que aplicou em 2016 contra Hillary, usando a masculinidade para atrair eleitores homens de classe média baixa, inclusive jovens, negros e hispânicos.

Os democratas, por seu turno, dizem que a metodologia foi mudada de tal forma pelas empresas de pesquisa -- para não repetir os erros de 2016 e 2020 -- que agora os votos de Kamala estão sendo subestimados, uma dúvida que só será sanada na semana que vem.