De BERLIM | O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou nesta quarta-feira (2) uma operação militar para resgatar brasileiros residentes no Líbano. A repatriação foi ordenada pelo chefe do Executivo em meio aos intensos ataques que as forças militares de Israel vêm realizando contra o país vizinho.
A operação, batizada de "Raízes do Cedro", foi determinada por Lula na última segunda-feira (30), poucas horas após tropas israelenses invadirem o sul do Líbano por terra. Além da ofensiva terrestre, Israel também está lançando ataques aéreos com bombas e mísseis, incluindo a capital Beirute.
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A aeronave KC-30, da Força Aérea Brasileira (FAB), partiu do Rio de Janeiro e pousou em Lisboa, Portugal, nesta quarta-feira, para uma escala. Neste momento, os tripulantes aguardam autorização para seguir viagem a Beirute e resgatar os brasileiros. O aeroporto da capital libanesa está aberto, mas bombardeios em áreas próximas podem levar a FAB a adotar rotas alternativas para realizar a repatriação.
Uma das possibilidades estudadas é retirar os brasileiros do Líbano e levá-los para a Turquia, em locais seguros, até que sejam disponibilizados novos voos ao Brasil. Outras rotas cogitadas incluem utilizar base aérea da Rússia na Síria, resgate via Jordânia ou através do Chipre, utilizando uma saída marítima.
No primeiro voo, a expectativa é que 220 brasileiros sejam resgatados e que o avião de repatriação retorne ao Brasil neste próximo fim de semana. Pelo menos 3 mil cidadãos do Brasil que vivem no Líbano pediram resgate.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), aproximadamente 21 mil brasileiros vivem atualmente no Líbano. Entre eles, dois adolescentes – uma jovem de 16 anos e um rapaz de 15 – foram mortos em ataques israelenses na última semana.
Segundo o Palácio do Planalto, a tripulação da aeronave de resgate conta com profissionais da saúde, incluindo médico, enfermeiro e psicólogo, "prontos para prestar o apoio necessário durante a missão".
Israel intensifica bombardeios e ataca centro de Beirute
Pela primeira vez em 18 anos, forças militares do Estado de Israel realizaram bombardeios no centro de Beirute, capital do Líbano, na madrugada desta quinta-feira (3). O ataque matou ao menos seis pessoas e deixou dezenas de feridos.
Até então, Israel vinha limitando seus ataques aos subúrbios da capital libanesa, sem atingir a região central, que é amplamente movimentada.
O bombardeio atingiu uma área próxima ao gabinete do primeiro-ministro libanês, Najib Mikati. Segundo Imran Khan, correspondente da rede Al Jazeera no país, esse fato pode arrastar o governo do Líbano para o conflito contra Israel, que até então permanecia "limitado" ao confronto entre as forças israelenses e o grupo Hezbollah.
"Este não foi um ataque aéreo aos subúrbios ao sul de Beirute. Foi em Bashoura, a apenas um quilômetro do gabinete do primeiro-ministro. É um bairro de classe média que foi duramente atingido (...). Este é o segundo ataque fora dos subúrbios do sul. O ataque é preocupante, pois agora não há mais lugares seguros", afirmou o jornalista da Al Jazeera.
"Israel afirma que está atacando o Hezbollah. Mas agora está atingindo áreas próximas ao gabinete do primeiro-ministro, o que é muito preocupante para o Líbano, pois o conflito não está mais confinado a Israel e Hezbollah. Se Israel continuar atacando e se aproximar do governo libanês ou de sua infraestrutura civil ou militar, isso arrastará o Líbano para o conflito", continuou Imran Khan.
A coordenadora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) no Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, declarou nas redes sociais que "a ansiedade e o medo são onipresentes" em Beirute após mais uma noite de ataques israelenses no coração da capital. Segundo Hennis-Plasschaert, Israel realizou os bombardeios sem qualquer aviso, dificultando o deslocamento seguro de civis.
"Mais uma noite sem dormir em Beirute. Contando as explosões que abalam a cidade. Nenhuma sirene de alerta. Sem saber o que vem a seguir. Apenas a incerteza que nos espera", declarou.
Além dos ataques no centro de Beirute, as forças israelenses bombardearam um edifício na cidade de Bint Jbeil, no sul do Líbano, matando 15 pessoas na madrugada desta quinta-feira.
Em duas semanas de ataques ao território libanês, as forças militares de Israel, sob as ordens do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, já mataram mais de mil pessoas e feriram milhares.
Contexto
Os recentes bombardeios israelenses no Líbano, assim como uma ofensiva terrestre de Israel no território libanês, são respostas às ações do grupo Hezbollah, que apoia a causa palestina e tem realizado ataques contra Israel em retaliação ao massacre de palestinos em Gaza.
O Hezbollah, apoiado pelo Irã, possui uma longa história de confronto com Israel, fornecendo apoio militar e logístico a grupos palestinos, incluindo o Hamas, que lidera a resistência armada contra a ocupação israelense.
Com o aumento das tensões em Gaza, onde milhares de civis palestinos foram mortos e deslocados pelos bombardeios israelenses, o Hezbollah intensificou suas ações na fronteira norte de Israel, como demonstração de solidariedade aos palestinos, o que fez dele um alvo prioritário para as operações militares israelenses. A incursão terrestre em território libanês é vista como uma tentativa de Israel de enfraquecer o Hezbollah e reduzir seu impacto no conflito mais amplo da região.
Nos últimos dias, Israel deflagrou ataques também em Damasco, capital da Síria, cujo governo apoia o Hezbollah e a causa palestina, matando ao menos 3 civis, incluindo uma jornalista.
Irã
Nesta semana, o Irã lançou um ataque contra Israel em resposta à escalada da violência no Oriente Médio, intensificando ainda mais o delicado cenário regional. A ação iraniana ocorreu no contexto do aumento das atividades do Hezbollah nas fronteiras do norte de Israel.
O Irã, um aliado de longa data do Hezbollah, justificou a ofensiva como retaliação aos ataques israelenses em Gaza, onde a ofensiva de Israel já causou a morte de milhares de civis palestinos. Israel prometeu uma resposta contundente ao ataque do Irã, elevando ainda mais a tensão na região.