Descrita como "uma associação voluntária de 56 nações independentes", o Commonwealth, formado por Estados outrora parte do Império Britânico — com passados de dominação imperial e escravista —, se reúne a cada dois anos em uma cúpula com representantes dos governos e as lideranças do Reino Unido.
Na semana passada, o encontro dos governos, que ocorrera pela última vez em 2022, em Ruanda, se deu no Estado Independente de Samoa, um conjunto de ilhas da Polinésia com população estimada de 225.681 pessoas.
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A pauta principal do encontro, conforme noticiaram veículos internacionais, foi o combate às mudanças climáticas e o estabelecimento de um tratado para a Defesa dos Oceanos e corpos d´água nas nações do Commonwealth — além de outros alvos estratégicos de financiamento para a agenda climática.
Temas como a igualdade de gênero também foram discutidos, e, ao final da sessão, os Estados-membros deveriam elaborar um comunicado final feito de maneira conjunta.
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Foi então que o tema das reparações históricas a países vítimas de séculos de exploração escravista e tráfico transatlântico de afrodescendentes surgiu, e deixou os membros do governo britânico desconfortáveis — porque essa não era uma das pautas previstas para o encontro deste ano.
Entre os séculos XV e XIX, pelo menos 12.5 milhões de africanos foram transportados à força em navios para o comércio escravista movimentado entre as potências europeias e americanas da época. A maior nação de comércio escravista durante esse período foi o Império Britânico, que por séculos funcionou como um intermediário desse comércio lucrativo para colônias de exploração de monoculturas.
Em abril do ano passado, conforme noticiou o Al Jazeera, o então primeiro ministro do Reino Unido, Rishi Sunak (2022 a 2024), do Partido Conservador, negou a emissão de um pedido formal de desculpas pelo papel do Império Britânico no tráfico de escravos, e descartou a possibilidade de um pagamento em dinheiro para as reparações.
O atual primeiro ministro, Keir Starmer, do Partido Trabalhista, confirmou que o assunto não estava na agenda do grupo — e nem entraria. Apesar de tratar o tópico da escravidão como um passado "abominável" na história do Reino Unido, Starmer afirmou que "prefere arregaçar as mangas" e "trabalhar nos desafios atuais" do que "perder tempo" rememorando esse passado.
O argumento de alguns chefes de Estado do Commonwealth, como o primeiro ministro das Ilhas Granadinas, no Caribe, é que esse passado continua a ser uma marca relevante no presente das nações, que não tiveram nenhuma base para sua construção como Estados independentes: "nenhuma terra, dinheiro, treinamento ou educação", afirmou Ralph Gonsalves, primeiro ministro das ilhas, ao The Guardian.
Devoluções
Em outubro deste ano, o Reino Unido finalizou um acordo com sua ex-colônia, a República de Maurício, que se tornou independente em 1968.
O acordo previa a devolução das ilhas do Arquipélago de Chagos (um grupo de mais de 60 ilhas no Oceano Índico), bem como o restabelecimento de soberania pela República de Maurício, mas com um detalhe: que a administração britânica pudesse continuar operando, na ilha principal do arquipélago, uma base militar em conjunto aos Estados Unidos.
De acordo com a cláusula do acordo celebrado, a base de Diego Garcia, construída pelos EUA em parceria com a Grã-Bretanha na década de 1970, vai continuar a ser territorialmente administrada pelo Reino Unido "por um período inicial de 99 anos".