COLONIALISMO

Nobel de economia explica como herança colonial influencia disparidade de renda entre países

Por que 20% dos países são 30 vezes mais ricos em relação aos 20% mais pobres? A diferença pode estar nas instituições coloniais, de acordo com os ganhadores

O grito, 2017.Créditos: Kent Monkman
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Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) foram premiados, nesta segunda (14), com o Nobel de Economia. A pesquisa vencedora buscou entender a grande disparidade de riqueza entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres entre as nações, que chega a ser de até 30 vezes o nível de renda.

O que poderia explicar essa disparidade? 

Para Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, ganhadores do prêmio, a riqueza moderna das nações não é um fruto direto da divisão do trabalho e da presença de livre-mercado, como propõe o sistema de pensamento de Adam Smith, senão como resultado de algo mais profundo e estrutural: a qualidade das instituições estabelecidas durante os períodos coloniais

A divisão de riquezas do mundo como hoje o conhecemos foi inaugurada pelos fenômenos coloniais, que se iniciaram com as regiões ibéricas e logo se tornaram o centro de poder econômico das nações modernas. 

Por ser um fenômeno de longuíssima duração para a história de diversos países com passados de dominação estrangeira, os estudos de Acemoglu, Johnson e Robinson retraçam a estrutura do colonialismo para entender por que alguns países foram mais bem-sucedidos que outros ao longo do tempo.

Do século XVI em diante, instituições coloniais de várias naturezas foram implantadas nos territórios alvos do domínio europeu. Para os pesquisadores, aquelas instituições de bases extrativistas (cujo objetivo era explorar recursos naturais e extrair trabalho das populações originárias), embora fossem as mais ricas de sua época, "envelheceram mal" nos sistema políticos e econômicos que propagaram.

Isso porque as instituições com foco extrativista não se preocupavam com o bem-estar de suas populações (mesmo entre os colonos) e, no longo prazo, não foram capazes de gerar benefícios ou distribuição de riquezas nos espaços coloniais.

O desenvolvimento econômico dessas regiões esteve, portanto, associado à criação de elites, e não incentivou um senso de construção comum do espaço econômico — isto é, foi limitado à exploração de bases monopolistas e desiguais.

O maior número de populações nativas presentes nas regiões extrativistas, além disso, influenciou o estilo de ocupação, sua brutalidade (que tendia a ser maior em locais em que havia mais resistência entre os nativos) e sua organização (com a criação, por exemplo, de milícias de controle).

Regiões com menor número de povos originários e baixa demanda de mão de obra, por sua vez, incentivavam a criação de instituições econômicas mais inclusivas, porque precisavam criar estímulos para os colonos, que deveriam "investir" na construção de um espaço de desenvolvimento conjunto. 

Ou seja, aquelas instituições que prosperaram estavam diretamente subordinadas ao benefício das populações brancas, que precisavam ser engajadas no processo colonial. 

Os pesquisadores apontam para uma "reversão de renda" avistada entre as colônias inicialmente mais pobres (menos focadas em gerar riqueza pela exploração de recursos e trabalho), devido à qualidade das suas instituições (mais inclusivas e menos violentas). 

Exemplos desse modelo podem ser avistados nos Estados Unidos, em que os colonos ingleses foram incentivados a construir uma nação e manejar a terra ao invés de apenas extrair seus recursos (embora a exploração das populações originárias não deixasse de ocorrer, foi mobilizada para outros fins). 

A democracia também foi um fator importante para os resultados da pesquisa: colônias mais "democráticas" eram capazes de incentivar outros aspectos relevantes para o sucesso e o bem-estar comuns, como a divisão do trabalho e uma distribuição mais justa de recursos, além de elites menos abusivas.