No último dia da reunião de Cúpula dos Brics realizada em Kazan, na Rússia, o chanceler brasileiro Mauro Vieira classificou como "irracional" o embargo capitaneado pelos EUA há 64 anos contra Cuba, país que figura entre os novos membros do bloco, juntamente com outros 12 países.
Ao falar sobre as "sanções coercitivas unilaterais", mirando os EUA, "que violam o direito internacional e causam danos ilegítimos", Vieira citou o caso da ilha caribenha, sufocada pelo embargo desde a revolução promovida por Che Guevara e os irmãos Fidel e Raul Castro.
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"O caso de Cuba é emblemático sobre a irracionalidade destas medidas, que afetam o desenvolvimento econômico do país por mais de seis décadas e, nos últimos tempos, estão contribuindo para piorar a situação energética, alimentar e sanitária do país caribenho", disparou Vieira pedindo a "imediata flexibilização das medidas" e a retirada de Cuba da lista dos Estados patrocinadores do terrorismo".
Em nome de Lula, o chanceler voltou a pedir a reforma dos organismos multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU, que está à frente do papel "decepcionante, para não dizer cúmplice" do "genocídio perpetrado contra o povo palestino".
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"Foram os países do sul global que votaram a favor da resolução da Assembleia Geral da ONU que pedia o fim das hostilidades", disse Vieira. "Aqueles que dizem ser defensores dos direitos humanos fazem vista grossa ante a maior atrocidade da história recente".
Além de Cuba, foram aceitos no Brics - sem direito a voto, por enquanto: Nigéria, Vietnã, Turquia, Indonésia, Belarus, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Uganda e Argélia. O Brasil vetou informalmente o ingresso da Venezuela e da Nicarágua.
Maduro e Putin
Com a Venezuela vetada, por orientação do Brasil, o anfitrião, Vladimir Putin, trocou afagos com Nicolas Maduro nos discursos nesta quinta-feira (24).
Após a fala de Vieira, Maduro defendeu o avanço nas negociações para se estabelecer uma nova moeda, que substitua o dólar, nas transações internacionais, uma das principais bandeiras dos Brics.
"A Venezuela foi sacada de todos os sistemas de pagamentos internacionais como parte das agressões, dos castigos econômicos", afirmou, sobre as sanções ao país, também comandadas pelos EUA, a serviço das transnacionais do petróleo.
Maduro voltou a elogiar Putin, após cumprimentar o presidente russo, em reunião bilateral, pela "grande batalha que a Rússia está travando contra o nazismo", em referência à guerra contra a Ucrânia.
O presidente venezuelano ainda pediu para “elevarmos fortemente as nossas vozes” e procurarmos “um plano prático e ousado” para uma refundação do sistema da ONU que “agoniza com o surgimento de correntes nazis e fascistas ao longo desta conjuntura histórica muito dolorosa”.
“Um novo mundo é possível. Acreditamos que um novo mundo já nasceu”, disse.
A declaração foi uma resposta a Putin, que destacou que Maduro dá continuidade à política de Hugo Chávez com vista ao fortalecimento da soberania da Venezuela.
“Estou convencido de que, nesse sentido, você segue o caminho completamente correto, e o Governo legítimo formado sob sua liderança após as eleições, sem dúvida, muito fez pelo desenvolvimento da Venezuela e pela cooperação com outros países, inclusive no estrutura da nossa organização BRICS", declarou Putin, em uma espécie de mea culpa pela não inclusão da Venezuela no bloco.
Em sua fala, o presidente chinês Xi Jinping destacou o alinhamento com os países do sul global. “A ascensão coletiva dos países do Sul Global é um sinal marcante de um mundo em mudança dinâmica”.