De LISBOA | O mundo parou e prendeu a respiração na terça-feira, 1° de outubro de 2024. Faltavam poucos minutos para as 14h no Brasil, quase 20h na maior parte dos países do Oriente Médio, quando uma chuva de mísseis disparada pelo Irã iluminou os céus não só de Telavive, a capital, mas de praticamente todo o território de Israel. As imagens mostravam uma “luta” incessante do Iron Dome, o moderno sistema de defesa antiaérea israelense, tentando caçar os artefatos da nação persa. Na propaganda de Israel, tudo dava certo e o país estava protegido por seu “escudo intransponível”, apesar do susto. Mas essa não era a verdade.
A realidade é que grande parte dos mísseis iranianos, excluindo aí aqueles que foram abatidos pela aviação de caça e os navios do EUA estacionados na região e pelas baterias antiaéreas da Jordânia, havia caído em solo de Israel e provocado grandes explosões. Os vídeos mostrando as detonações se multiplicaram nas redes sociais e alguns mostravam inclusive dezenas de bombas atingido o horizonte simultaneamente.
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Passadas algumas horas, o Irã explicou o que houve. Seus mísseis, em grande proporção, não foram interceptados e atingiram os alvos para os quais foram programados em Teerã, só que esses alvos eram apenas instalações militares e locais desabitados, próximos de centros urbanos, para não fazerem vítimas civis, deixando um recado claro ao governo do primeiro-ministro de extrema direita Benjamin Netanyahu.
Já nesta quarta (2), especialistas em assuntos militares de todo o mundo, ouvidos por veículos de imprensa, após verem vídeos e fotos com destroços dos armamentos, confirmaram que os mísseis iranianos teriam tido sucesso em romper a proteção do Iron Dome e de outros dois sistemas de defesa israelenses. Aliás, esses mísseis que realizaram tal façanha eram de tipos variados, mas um especialmente seria o grande medo de Israel.
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Estamos falando do Haj Qasem, a “estrela” do arsenal iraniano. O nome dele é uma homenagem ao general Qasem Soleimani, o comandante máximo desde 1998 das Forças Especiais al-Quds, da Guarda Revolucionária do Irã, assassinado por um drone das Forças Armadas norte-americanas nos primeiros dias de 2020, no Iraque. O artefato é um míssil balístico hipersônico, ou seja, ele realiza um trajeto balístico e atinge velocidade muito acima da velocidade do som, capaz de fazer manobras antes de detonar no alvo. No caso do Haj Qasem, a velocidade atingida é a de Mach 12 (aproximadamente 4 quilômetros por segundo).
E é aí nessa velocidade que está seu grande poder. Mesmo para sistemas complexos de defesa antiaérea, como o glamouroso Iron Dome, a trajetória e a velocidade do Haj Qasem, que tem 11 metros de comprimento, pesa mais de sete toneladas e carrega uma ogiva altamente explosiva de mais de 500kg, impossibilita na maior parte das vezes a sua interceptação. O míssil foi desenvolvido para alcançar um alvo a até 1.400 quilômetros de distância, com precisão, autonomia mais do que suficiente para chegar no espaço aéreo do Estado judeu.
No caso do ataque de terça (1°), pouco mais de 200 mísseis foram lançados no total pelo Irã contra Israel, e apenas alguns poucos Haj Qasem estavam entre eles. A maior parte desses projéteis era de mísseis menores, que também fazem grandes estragos, embora a função deles tenha sido outra: embaralhar e sobrecarregar o Iron Dome e seus dois sistemas auxiliares, abrindo espaço para que os poderosos Haj Qasem, assim como os também temidos Fattah-2 e Shahab-3, passassem direto pelo bloqueio e atingissem os alvos. Se eles tivessem sido programados para acertar em cheio grandes aglomerados urbanos, como Telavive, Jerusalém, Haifa ou Eilat, uma tragédia de dimensões colossais teria se abatido sobre Israel.