DE MÃOS LIVRES

A Grande Israel veio para ficar, apesar do esperneio do planeta

A ONU, desmoralizada com apoio dos EUA

Ele avisou.O ministro das Finanças de Israel foi a Paris anunciar a Grande Israel, que pode ser ainda maior.Créditos: Reprodução
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Não há fim à vista para a guerra em Gaza, nem nos demais territórios palestinos ocupados, muito menos no Líbano.

Tel Aviv, que hoje já controla as fazendas de Shebaa, historicamente libanesas, alega que elas fazem parte das colinas de Golan, que pertencem à Síria e foram formalmente anexadas por Israel em 1981.

Pouco mais de um ano depois do ataque do Hamas, o Estado de Israel usou o 7 de Outubro como sempre fez em conflitos anteriores: argumento falacioso para promover a Grande Israel, abençoada por extremistas religiosos.

A morte das principais lideranças do Hamas, de maneira dramática -- uma delas assassinada em Teerã e outra executada em Gaza -- é o combustível que justifica o estado de guerra permanente.

Se a guerra é permanente, não há o que negociar.

Benjamin Netanyahu, que o Ocidente por vezes taxa de extremista para escapar de sua própria responsabilidade, está com as mãos livres.

Não só não precisa prestar contas de seus fracassos anteriores, como permanece à frente da coalizão que usa argumentação religiosa para promover expansão territorial.

O mapa expansionista

Em março de 2023, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, participou de um encontro da extrema-direita judaico-francesa no qual disse, em Paris, que o povo palestino não existe.

Smotrich, que é ele próprio colono em terra palestina, falou diante de um pódio onde um mapa mostrava Israel em sua "nova" configuração, com territórios hoje reconhecidos como parte da Síria e da Jordânia.

Smotrich tratava de naturalizar o que é um fato no terreno: Israel controla Gaza e a Cisjordânia, desmoralizou completamente a Autoridade Palestina e, ao declarar o secretário-geral da ONU persona non grata, enterrou na prática a decisão da Assembleia Geral, de 29 de novembro de 2012, que deu à Palestina status de observadora sem direito a voto.

A Palestina poderá observar à vontade seu próprio enterro, no mundo da real politik.

Uma fantasia

O Brasil e muitos outros países continuam se apegando ao status de Mahmoud Abbas como presidente do Estado palestino, mas é uma peça de ficção diplomática.

Com o sucesso militar de Israel na região, revisionistas do sionismo consideram a Península do Sinai como parte da Terra Prometida. Há versões mais extremistas que falam numa Grande Israel se estendendo até as margens do rio Eufrates, no Iraque -- englobando Damasco, a capital da Síria.

Hoje tudo isso soa como absurdo extremista.

Porém, é importante relembrar que um dia, bancado pelos EUA, Rússia, União Europeia e ONU, existiu um 'mapa do caminho' em direção a dois estados, convivendo lado a lado: Israel e Palestina.

Este mapa está morto. O do expansionismo, não.

Benjamin Netanyahu, para não ser ultrapassado pelo consórcio de extrema-direita que inclui alguns de seus principais ministros, como Smotrich, já mostrou na ONU um mapa de Israel que incorporava os territórios palestinos.

À guisa de combater a influência regional do Irã, Israel trata agora de, para efeitos práticos, "anexar" todo o sul do Líbano, até as margens do rio Litani.

Como a prioridade do Ocidente é combater o Irã -- e, por tabela, enfraquecer a Rússia e a China -- de Paris a Berlim lideranças políticas simulam indignação contra o projeto expansionista de Israel, enquanto ele acontece na prática.

O "dia seguinte" de Gaza, mesmo com uma derrota completa do Hamas, é a reprise do que se viu na Cisjordânia: expansão territorial através de colonização, para além da anexação de fato de Jerusalém -- que só nos papéis da diplomacia falida ainda aparece como "em disputa".