PREOCUPANTE

O que está por trás da região francesa com índices crescentes de câncer infantil

Investigações conduzidas por uma associação local e acompanhadas pelo jornal Le Monde revelam que alto índice de câncer infantojuvenil pode estar ligado ao manejo de substâncias ilegais

Crianças francesas.Créditos: Derek Bridges via Wikimedia commons
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A região de Aunis, uma província agrícola situada na costa atlântica da França, entre as cidades de La Rochelle e Rochefort, tem registrado casos crescentes de câncer entre a população infantojuvenil. 

De acordo com uma investigação conduzida por associações locais e acompanhada pelo jornal francês Le Monde, após uma análise de amostras biológicas das crianças residentes na região, foram encontrados 14 tipos de moléculas com traços de pesticidas

Materiais como cabelo e urina recolhidos das crianças e jovens revelaram substâncias carcinogênicas, com alto potencial mutagênico, cujo uso é proibido pela Agência Europeia de Produtos Químicos

Pelo menos 70 crianças foram avaliadas pelas investigações, e os resultados mostraram uma relação direta entre as substâncias encontradas nas suas amostras e pesticidas usados para o controle de pragas em lavouras.

Os casos de câncer na região de Aunis têm sido notados desde 2018, quando os estudos começaram a ser conduzidos, com alta incidência especialmente entre os mais jovens. De acordo com a Liga Contra o Câncer e o Instituto Nacional de Saúde franceses, em Saint-Rogatien, uma vila com apenas dois mil habitantes, há uma incidência quatro vezes maior de câncer infantil

Os maiores níveis das substâncias encontradas, como a fitalimida (produto gerado pela decomposição de um fungicida cancerígeno), o acetamipride (neurotóxico que permanece no ambiente por longos períodos após o uso) e a pendimentalina (classificada de alto risco por seu potencial cancerígeno), foram identificados em crianças. 

Casos de pesticidas transferidos durante a gravidez, via placenta, também já foram alvo de investigação judicial no noroeste da França. Uma mulher que manejou produtos infectados com os pesticidas durante a gravidez apelou ao Tribunal de Rennes pela morte de sua filha de 11 anos, em 2022, vítima de câncer.

De acordo com o Fundo de Indenização às Vítimas de Pesticidas (FIVP), a morte da garota tinha relação direta com a exposição da mãe aos tóxicos durante seu pré-natal. A organização ofereceu 25 mil euros de indenização aos pais da criança.

A União Europeia (UE) tem uma das legislações mais rigorosas do mundo quando se trata da regulação de pesticidas, que incluem a proibição de neonicotinoides como o acetamipride, uma das substâncias encontradas nas análises biológicas do caso investigado.

Além disso, a estratégia "do prado ao prato", lançada pela UE em 2020, quer reduzir o uso de pesticidas à metade até 2030 e incentivar práticas de agricultura orgânica.