Segundo informações reveladas pela jornalista Adriana Amâncio, no site O Joio e o Trigo, o Brasil está prestes a ser o primeiro país a liberar uma soja transgênica resistente a um coquetel de quatro agrotóxicos, incluindo um banido na Europa, decisão que coloca em risco a saúde humana e o meio ambiente, com impactos ainda desconhecidos a longo prazo.
O país estaria avaliando a liberação de uma soja transgênica resistente a uma combinação inédita de quatro agrotóxicos: 2,4-D, dicamba, mesotriona e glufosinato de amônio. A Monsanto, gigante dos agrotóxicos e empresa da Bayer, empurra sua nova soja transgênica para o mercado brasileiro. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) pode dar o sinal verde para essa semente que promete aumentar o uso do veneno.
O pedido da Monsanto para liberar a nova soja transgênica está em análise na CTNBio desde dezembro de 2022. Após pareceres favoráveis da Comissão Vegetal e Ambiental e da Comissão de Saúde Humana e Animal, a proposta chegou ao plenário. No entanto, um pedido de vistas suspendeu a votação final. São mais de 40 milhões de hectares de soja no país.
O que diz empresa da Bayer
A Monsanto diz ter realizado "centenas de estudos científicos" sobre a nova soja transgênica, incluindo testes em campo no Brasil, a “todas as regiões edafoclimáticas no Brasil relevantes para a cultura da soja”. No entanto, haveria falta de detalhes sobre a natureza dos estudos e o texto não menciona se eles incluíram análises da própria soja após a aplicação da mistura de agrotóxicos. (Veja a nota completa no final da matéria).
Bayer já foi denunciada
Em abril, uma ação conjunta, organizações da sociedade civil de cinco países – Argentina, Brasil, Paraguai, Bolívia e Alemanha – formalizaram uma denúncia à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra a multinacional alemã Bayer. A iniciativa visava responsabilizar a Bayer por uma série de violações aos direitos humanos e ambientais.
Organizações como o Centro de Estudios Legales y Sociales (Argentina), Terra de Direitos (Brasil), BASE-IS (Paraguai), Fundación TIERRA (Bolívia), Misereor e ECCHR, assinaram a denúncia exigindo que a Bayer AG implemente mudanças sustentáveis em suas práticas empresariais e agricultoras.
A queixa, apresentada à OCDE, destaca quatro casos específicos que ilustram os impactos negativos do modelo agrícola da Bayer AG. Estes casos ocorrem em áreas onde a empresa comercializa amplamente seus produtos. As organizações apontam que a empresa violou os direitos humanos à saúde, à alimentação, à água, ao meio ambiente, à habitação, à terra e/ou ao território. Além disso, a empresa também é acusada de violar os direitos dos povos indígenas e das comunidades camponesas, bem como as diretrizes da OCDE para multinacionais.
No Brasil, por exemplo, o glifosato vem contaminando as aldeias indígenas Avá-Guarani, caso que compõe o trecho da denúncia. “Há anos que organizações locais e comunidades afectadas denunciam a utilização indevida dos perigosos pesticidas da Bayer associados às suas sementes de soja geneticamente modificadas. Chegou a hora de a Bayer levar a sério estes riscos nos seus processos de diligência”, escreveu Laura Reyes, responsável pelo segmento de Empresas e Direitos Humanos no Centro Europeu para os Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR).