Bateu o desespero nos democratas. Eles escalaram seu porta-voz mais poderoso, o ex-presidente Barack Obama, para um discurso em Pittsburgh, na Pensilvânia, em que ele passou um pito nos eleitores homens, dizendo que alguns deles estão procurando argumentos para não votar em Kamala Harris exclusivamente por serem machistas.
Na mais recente pesquisa bancada pelo New York Times, Trump tem vantagem de 53% a 40% sobre Kamala entre eleitores homens de menos de 30 anos de idade.
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Entre as mulheres, Kamala tem 67% a 29%.
São números nacionais, que não necessariamente se refletem nos estados decisivos. Muitos analistas acreditam que quem vencer na Pensilvânia leva a eleição.
A pesquisa mais recente lá, de um instituto considerado confiável, ligado à universidade de Emerson, mostra Trump com 49% a 48% contra Kamala.
Pittsburgh, no interior da Pensilvânia, é uma das cidades mais importantes do chamado Cinturão da Ferrugem, uma região do interior dos Estados Unidos que sofreu muito com a decadência industrial do país.
Cinturão da ferrugem
O Cinturão inclui pedaços dos estados de Illinois, Indiana, Michigan, Missouri, Nova York, Ohio, Virgínia Ocidental e Wisconsin.
Não por acaso, Trump escolheu como vice um senador por Ohio, JD Vance, para garantir sua vitória no estado.
Também não é coincidência que o bilionário Elon Musk montou um quartel-general em Pittsburgh para os dias finais de campanha. Ele prometeu a Donald Trump até 1 milhão de votos nos chamados estados-pêndulo, usando dinheiro arrecadado por um comitê de ação política que organizou.
Para vencer, Harris tem de reproduzir a coalizão que levou Joe Biden à Casa Branca em 2020: grande vantagem de votos entre mulheres, sindicalizados, jovens, negros e hispânicos.
Porém, Trump avançou nos três últimos blocos, por vários motivos.
Ao pesquisar eleitores de 18 a 26 anos de idade, a Universidade de Chicago concluiu que as principais preocupações deles agora são com crescimento econômico, desigualdade e pobreza.
Isso favorece o voto de protesto ou o não comparecimento às urnas.
Uma pesquisa da agência de crédito TransUnion descobriu que os jovens de 22 a 24 anos nunca estiveram tão endividados no cartão de crédito ou em empréstimos para pagar o automóvel ou o primeiro imóvel.
O discurso de Trump, de que vai acabar com as guerras e colocar o dinheiro na infraestrutura do país, sugere que empregos seriam criados.
Medo e masculinidade
Jogando os eleitores negros e hispânicos contra os imigrantes, Trump também marca pontos. Ele sustenta que os ilegais estão tomando empregos de estadunidenses, especialmente dos mais pobres.
Não foi por acaso que a Convenção Nacional Republicana colocou em destaque o ex-lutador Hulk Hogan para discursar. Trump, para retornar à Casa Branca, tenta solapar o apoio de Kamala entre jovens em geral, negros e hispânicos.
Há sinais de que está conseguindo.
O republicano montou uma rede de apoio entre rappers populares com a juventude, que participam de seus comícios ou manifestam apoio nas redes sociais. Ele também engajou famosos atletas negros.
O argumento dos apoiadores é de que Trump reduziu as penas de condenados que não cometeram crimes violentos e foi generoso com a comunidade negra durante a pandemia, forçando o Congresso a aumentar os cheques de ajuda de 600 para 2 mil dólares.
Além disso, o republicano disse que estava sendo perseguido pela Justiça assim como a grande maioria dos negros estadunidenses e chegou a se comparar com Nelson Mandela. Por mais bizarro que soe este discurso, teve repercussão numa franja do eleitorado.
De acordo com o centro de pesquisa Pew, Trump perdeu de Biden de 92% a 8% entre os eleitores negros em 2020, uma margem que pode ser muito menor este ano.
Trump também está evitando uma derrota esmagadora entre os eleitores hispânicos.
No Arizona e em Nevada, dois estados pêndulo, uma pesquisa publicada pelo US Today revelou que Trump tem 53% a 40% e 51% a 39% de vantagem sobre Harris, respectivamente, entre eleitores hispânicos jovens, de 18 a 34 anos de idade.
A mídia dos EUA apoia Kamala Harris majoritariamente, mais ou menos abertamente.
Por isso, não tem enfatizado os sinais de que Trump está erodindo as bordas da coalizão que levou Biden à vitória.
A eleição de 5 de novembro segue sem favorito. Nos sete estados decisivos a vantagem de Kamala ou Trump está dentro da margem de erro.
Porém, o republicano parece ter se recuperado depois que a escolha de Kamala Harris provocou uma onda de entusiasmo entre os democratas.