ASSASSINATO EM BEIRUTE

Israel provoca, mas Hezbollah dificilmente vai aderir a guerra total

Até agora, Tel Aviv fracassou em seus objetivos militares

Ataque.O apartamento em que um alto dirigente do Hamas foi assassinado em BeiruteCréditos: Agência Anadolu
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"Este novo crime israelense busca arrastar o Líbano para uma nova fase de confronto", reagiu o bilionário Najib Mikati, o conservador primeiro-ministro libanês.

Ele falava do ataque de Israel ao bairro xiita da capital libanesa que matou Saleh al-Arouri, considerado o segundo líder mais importante do Hamas. 

Tel Aviv considerou o ataque de drone contra um edifício uma ação cirúrgica. Saleh coordenava a relação do Hamas com o Hezbollah.

O Hezbollah controla bairros de Beirute, o vale do rio Beca e o sul do país. Participa de um amplo governo de coalizão com forças que não querem um novo conflito com Israel, como o de 2006.

DERROTA DE LONGO PRAZO

Refletindo isso, a Agência Nacional Libanesa não dedicou grande cobertura ao assassinato. O ministro da Informação, Ziad Al-Makary, disse:

Estamos numa guerra e a questão dos assassinatos é da natureza dos israelenses. Vimos os seus assassinatos na Tunísia, em Dubai, em Beirute e em todo o lado. Esperamos tudo, trabalhando para que esta guerra não se intensifique de forma mais violenta em outras áreas do Líbano

Mesmo a mídia ligada diretamente ao Hezbollah, apesar de denunciar o ataque, não falou em retaliação iminente.

O líder do grupo, Hassan Nasrallah, vai fazer um discurso nas próximas horas.

Analistas atribuem os ataques de Israel a uma tentativa de compensar a falta de sucesso na ofensiva de Gaza.

Embora alegue que já matou 10 mil militantes do Hamas, o fato é que o grupo que controla o território palestino continua atirando foguetes em direção a Israel.

O governo de Benjamin Netanyahu já fala em uma guerra "de meses".

Escrevendo no site da Jazeera, Zoran Kusovac citou:

O Instituto para o Estudo da Guerra, um influente e bem informado think tank estadunidense, estima que dos 26 a 30 batalhões do Hamas que existiam em 7 de outubro (cada um com de 400 a 1.000 homens) apenas três se tornaram inoperantes

Este relativo fracasso militar acontece num momento em que cresce o isolamento de Israel diante da opinião pública mundial. 

De acordo com a mídia de Israel, autoridades do governo Netanyahu estão negociando com o Congo e outros paises a transferência de palestinos que queiram deixar Gaza.

Nas últimas horas, França e Alemanha reagiram com veemência a declarações de ministros de Israel que falam em reassentar palestinos em outros paises.

Israel não ganhou a guerra rapidamente, não assumiu o controle total de Gaza e parece não ter um plano para o pós-guerra.

O governo dos Estados Unidos, por exemplo, continua apoiando a "solução de dois estados" endossada pelas Nações Unidas.

Este é o contexto em que o Hezbollah e Teerã falam muito mais do que fazem, na expectativa de uma derrota estratégica de Israel, mesmo se houver vitória militar em Gaza.

Antes do ataque do Hamas em 7 de outubro, Tel Aviv caminhava para normalizar relações com a Arábia Saudita, depois de tê-lo feito com vários outros paises árabes num plano desenhado pela Casa Branca para "normalizar" a região sob a pax americana.

Agora, Tel Aviv foi formalmente acusada na Corte Internacional de Justiça, pela África do Sul, de cometer genocídio contra a população civil de Gaza.

A guerra entre Israel e Gaza foi o tema principal do Fórum Global desta quarta-feira, 3, em que foi discutida a ação do lobby de Israel no Brasil para calar críticos às ações do governo Netanyahu: