HAIA

Quem é o juiz brasileiro que vai julgar Israel a partir de amanhã

Lula é citado em petição; África do Sul quer suspensão imediata de ação em Gaza

O tribunal.O que serve para a Rússia serve para Israel? A disputa começa amanhã em HaiaCréditos: Reprodução
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Um juiz brasileiro faz parte do tribunal que começa a avaliar na quinta-feira, 11, a acusação formalizada pela África do Sul de que Israel está cometendo genocídio em Gaza.

A ação sul-africana, de 84 páginas, pede que o Tribunal Internacional de Justiça (ICJ) determine medidas de emergência contra Israel, como a suspensão das ações militares em Gaza.

Uma decisão do mérito do caso pode levar anos.

Porém, depois de ouvir os dois lados uma decisão sobre ações emergenciais pode ser tomada em alguns dias.

O Tribunal Internacional de Justiça é o órgão judicial mais importante das Nações Unidas.

Baseado em Haia, na Holanda, ele decide casos relacionados à Convenção de Genebra, da qual a África do Sul e Israel são signatários.

Os Estados Unidos já definiram sua posição.

"A acusação de genocídio não tem base", disse o secretário de Estado Anthony Blinken.

"O malicioso libelo de sangue promovido pela África do Sul procura caluniar o Estado de Israel", sustenta o governo de Benjamin Netanyahu, que lançou um site exclusivamente para se defender das acusações.

O caso será ouvido por um corpo de 17 juizes, inclusive representantes de Israel e África do Sul. 

O tribunal hoje é presidido pela norte-americana Joan Donoghue, tendo como vice o russo Kirill Gevorgian.

Um dos juizes é o brasileiro Leonardo Brant, que foi professor de Lei Internacional da Universidade Federal de Minas Gerais até 2022, antes de ser eleito para o cargo na Assembleia Geral da ONU.

Ele é doutor em Direito pela Universidade Paris X-Nanterre.

Aos 15 juizes do Tribunal vão se juntar representantes da África do Sul e de Israel

Na atual composição, os outros juizes são da China, Eslováquia, França, Marrocos, Somália, Uganda, Índia, Jamaica, Líbano, Japão, Alemanha e Austrália.

Haverá mudança já em 6 de fevereiro, quando assumem quatro novos juizes para um mandato de 9 anos.

Os juizes não votam de acordo com a orientação de seus governos.

Porém, ao condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda em 2022, os únicos juízes que não apoiaram o pedido imediato de retirada das tropas russas foram os da Rússia e China.

A decisão preliminar do ICJ, neste caso, foi desconhecida por Moscou.

FALA DE LULA É CITADA

Hoje, em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, houve manifestação de apoio à petição da África do Sul diante de uma estátua de Nelson Mandela.

A África do Sul foi um dos primeiros paises a retirar seu embaixador de Tel Aviv e, com apoio do Parlamento, rompeu relações diplomáticas com Israel.

A petição dos sul-africanos recebeu o apoio formal da Bolívia, Malásia, Turquia, Jordânia, Maldivas, Namíbia, Paquistão e dos 57 países da Organização de Países Islâmicos, que inclui Irã, Arábia Saudita e Indonésia.

Embora Lula não tenha sido citado nominalmente na petição, a África do Sul listou os presidentes que definiram a ação de Israel em Gaza como genocida e citou os líderes do Brasil, Argélia, Bolívia, Colômbia, Cuba, Irã, Turquia e Venezuela.

O Tribunal Internacional de Justiça não tem como impedir Israel de continuar suas ações militares em Gaza.

No longo prazo, se eventualmente houver condenação de Tel Aviv, o caso será remetido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde os Estados Unidos tem poder de veto.

Porém, o desgaste político de uma decisão preliminar e desfavorável seria grande junto à opinião pública.

Por isso, Israel montou um time de defesa que será liderado por um ex-presidente da Suprema Corte do país, Aharon Barak.

HIPOCRISIA

Além disso, o caso pode expor a hipocrisia da União Europeia, que foi rápida em condenar a Rússia por invadir a Ucrânia mas está mantendo um silêncio obsequioso em relação ao massacre em Gaza.

O Reino Unido, por exemplo, peticionou no mesmo tribunal contra o governo de Myanmar, que acusou de genocídio contra o povo Rohingya, mas se calou sobre a ação da África do Sul 

Paralelamente ao caso que começa a ser julgado na quinta-feira, Bolívia, África do Sul, Bangladesh, Comoros e Djibouti peticionaram ao Tribunal Criminal Internacional (ICC) para que investigue responsabilidade pessoal de líderes de Israel por eventuais crimes cometidos em Gaza.

O ICC, que não é ligado à ONU, foi aquele que em março de 2023 emitiu ordens de prisão contra o presidente russo Vladimir Putin e a comissária de Direitos da Criança de seu gabinete, Maria Alekseyevna Lvova-Belova, sob a acusação de deportar ou transferir ilegalmente crianças de território da Ucrânia.

Desde então, Putin tem limitado suas viagens internacionais.

A petição da África do Sul contra Israel tem impacto diplomático por causa das acusações de apartheid contra Tel Aviv, que relembram o histórico regime supremacista branco que governou os sul africanos e acabou desabando por conta do isolamento internacional.

Diz a acusação:

Os fatos invocados pela África do Sul neste pedido e a serem desenvolvidos neste processo estabelecem que -- num contexto de apartheid, expulsão, limpeza étnica, anexação, ocupação, discriminação e a contínua negação do direito do povo palestino à autodeterminação — Israel, desde 7 de outubro de 2023 em particular, não conseguiu evitar o genocídio e não conseguiu impedir o incitamento direto e público ao genocídio [de seus dirigentes]. Mais grave ainda, Israel envolveu-se, está se envolvendo e corre o risco de se envolver ainda mais em atos genocidas contra os palestinos em Gaza. Esses atos incluem matá-los, causar-lhes graves danos mentais e corporais e infligir-lhes deliberadamente condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física como grupo.