A rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, foi oficialmente acusada em um processo civil da justiça norte-americana, na segunda-feira (4), de facilitar a violação dos direitos humanos pela Arábia Saudita. Segundo o processo, a frequência do fornecimento de informações privadas dos usuários para o país saudita teria sido superior do que ocorre, por exemplo, em países como Reino Unido, Canadá ou Estados Unidos.
Adquirida pelo bilionário Elon Musk no ano passado, a empresa enfrenta um processo nos Estados Unidos. A ação foi movida em maio passado por Areej al-Sadhan, irmã de um funcionário saudita de uma organização humanitária que foi detido e condenado a 20 anos de prisão.
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A alegação é de que a empresa desempenhou um papel na detenção e condenação do funcionário ao fornecer informações privadas às autoridades sauditas.
O que aconteceu?
De acordo com o jornal britânico The Guardian, três agentes sauditas se infiltraram na rede social e se passaram por funcionários do antigo Twitter entre os anos de 2014 e 2015. Assim, as autoridades sauditas teriam obtido acesso às identidades e informações de milhares de usuários anônimos, que teriam sido usadas para supostamente torturar, prender e deter militantes.
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Rede social com “amplo conhecimento” e colaboração
Um dos funcionários sauditas condenado pelo regime é Abdulrahman, trabalhador humanitário que desapareceu à força e foi condenado à prisão. Liderada por Areej al-Sadhan, a acusação reforça que “a ampla notificação” de vazamento de dados e riscos de segurança teriam sido ignorados pelo Twitter.
Além disso, o processo traz a alegação do estreitamento de laços da empresa de comunicação com o regime saudita por interesses econômicos. Nisso, está incluído o acesso de informações privadas, solicitadas pela Arábia Saudita, em “uma frequência significativamente maior” do que a registrada na maioria das outras nações em 2015.
Com a finalidade de confirmar as identidades de críticos ao governo, o regime teria preenchido pedidos de divulgação de emergência (EDRs) do Twitter, segundo o processo. Caso sejam confirmados, as informações fornecidas pelo Twitter teriam sido usadas em tribunais contra os dissidentes. Em menos de um dia, a maioria dos pedidos de divulgação de emergência foram aprovados, de acordo com a ação judicial.
Primavera Árabe
Amplamente utilizada nos movimentos democráticos no decorrer da Primavera Árabe em 2013 como veículo de protestos, os autos revelam que a rede social havia sido fonte de dor de cabeça para o regime saudita. Nos registros de infiltrações no Twitter, o saudita Ahmad Abouammo começou a acessar e enviar dados confidenciais às autoridades em Riad em 2014.
De acordo com os registros do processo, Abouammo enviou uma mensagem para Saud al-Qahtani, um conselheiro próximo do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, usando sua própria conta no Twitter. A mensagem dizia: "Proativamente e reativamente, vamos derrotar o mal".
Na semana passada, novas acusações contra a plataforma foram feitas pelos advogados de Al-Sadhan. A rede social era liderada por Jack Dorsey no momento dos supostos crimes. No documento, é apresentado que o Twitter tinha conhecimento total da “campanha maligna” conduzida pelas autoridades sauditas.
O processo ainda enfatiza que “o Twitter sabia desta mensagem - enviada abertamente em sua própria plataforma - ou a ignorou intencionalmente”. Depois de deixar a rede social em maio de 2015, Abouammo continuou em contato com a empresa para encaminhar alguns pedidos que havia recebido de Bader al-Asaker, um dos principais conselheiros de Bin Salman. Ele queria obter informações sobre a identidade de alguns cidadãos sauditas.