O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu os debates da Assembleia Geral da ONU 2023 com um histórico discurso nesta terça-feira (19).
A fala do presidente é marcante por abordar os principais temas globais, como desigualdade, guerras, mudança climática e uma reforma na governança global.
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Lula abriu o discurso lamentando o atentado terrorista de Bagdá em 2003, que matou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Sérgio Vieira de Mello. Ele também lamentou a tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, as vítimas do terremoto no Marrocos e as enchentes que mataram mais de 10 mil pessoas na Líbia.
Mudança climática
"Há 20 anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez. Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade, reafirmando o que disse em 2003. Naquela época, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática. Hoje, ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres. A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã", abriu o presidente.
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Lula também apoiou uma mudança em direção mais rápida à Agenda 2030 e conectou a a mudança climática ao racismo ambiental. "A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento, a Agenda 2030, pode se transformar no seu maior fracasso. A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030. No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível. Queremos alcançar a igualdade racial na sociedade brasileira por meio de um décimo oitavo objetivo que adotaremos voluntariamente", completou Lula.
Desigualdade
Ele também fez fortes falas sobre a desigualdade no planeta e defendeu programas de redistribuição de renda. "Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente. É preciso, antes de tudo, vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo", completou Lula.
"A desigualdade precisa inspirar indignação. Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano. Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo ao nosso redor. A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la", disse o presidente.
Critica ao neoliberalismo e ao FMI
O presidente também fez dura crítica aos mecanismos financeiros internacionais, como FMI e Banco Mundial. "As bases de uma nova governança econômica não foram lançadas. Não corrigimos os excessos da desregulação dos mercados e da apologia do Estado mínimo", disse.
"Em meio aos escombros do neoliberalismo, surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário. Repudiamos uma agenda que utiliza os imigrantes como bodes expiatórios, que corrói o Estado de bem-estar e que investe contra os direitos dos trabalhadores. Precisamos resgatar as melhores tradições humanistas que inspiraram a criação da ONU", completou.
Defesa da paz
Para além da Guerra da Ucrânia, Lula abordou outros diferentes temas de segurança internacional em seu discurso. "Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz. Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras. É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças. Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino", disse.
"A este caso se somam a persistência da crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão. Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas. A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância", completou Lula.
Reforma no Conselho de Segurança
Como adiantado pela Fórum, Lula defendeu a reforma do conselho de segurança da ONU. "A estabilidade geopolítica e a segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade. A ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo. As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados", disse.
O presidente também criticou a recriação de uma guerra fria. "Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria. Além disso, o Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia", completou o petista.
Este texto está em atualização.