A pandemia de Covid-19 consolidou definitivamente um modo de trabalho ainda incipiente, à época, no mundo: o home office. Com essa mudança no paradigma trabalhista, algumas pessoas levaram a ideia de trabalhar sem sair de casa às últimas consequências e passaram a ressignificar o próprio conceito de casa. São os chamados nômades digitais.
A popularização desse modo de vida é tanta que diversos países ao redor do mundo estão criando legislações específicas para englobar esse tipo de pessoas, como a implementação de vistos especiais para os nômades. Esse estilo de vida deixou de ser característico de um punhado de pessoas e passou a formar um verdadeiro grupo social, que tem afetado a vida e a economia dos países onde pisam.
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O que é um nômade digital?
Os nômades digitais são pessoas que trabalham remotamente, em regime de home office, e deixam as moradias fixas em seus países de origem para passar a vida viajando – enquanto trabalham.
A pandemia foi um tempo propício para o florescimento desse modo de vida: tanto os trabalhadores querem explorar novos ares após passarem dois anos trancados em suas casas, quanto os países precisam de turistas, já que, com as restrições de viagens em voga entre 2020 e 2022, os lucros com turismo caíram drasticamente.
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Os governos passaram, então, a criar estratégias para atrair os aventureiros, sendo a principal a criação de um “visto para nômades digitais”. De acordo com o site Nomad Girl, especializado em nomadismo digital, já são 58 países ao redor do mundo que oferecem o visto especial ou estão em vias de oferecer, incluindo o Brasil.
O visto para nômades digitais não é tão definitivo quanto um visto permanente, nem tão básico quanto um visto turístico. Ele permite que estrangeiros exerçam legalmente suas atividades profissionais por períodos de seis meses a um ano, nos países que o emitem. Muitos exigem uma renda mínima para a emissão.
A ideia é que os “turistas trabalhadores” participem ativamente do cosmos social em que estarão inseridos por aquele período de tempo. Eles podem alugar um imóvel, comprar ou alugar um carro, matricular o filho numa escola, ir à academia, utilizar serviço de salão de beleza, tudo isso sem concorrer com a mão de obra local. No entanto, o impacto na economia provocado pelos nômades digitais é tamanho que tem interferido na vida de muitos moradores locais.
Impacto nos moradores locais
De acordo com o Relatório Mundial de Tendências Migratórias 2022 da Fragomen, agência especializada em serviços de imigração, já são mais de 35 milhões de nômades digitais espalhados ao redor do globo. A previsão é de que, até 2035, existam 1 bilhão de pessoas com esse modo de vida.
Apesar de, em teoria, poderem ir para qualquer lugar do mundo, os nômades buscam destinos específicos: cidades com custo de vida acessível e qualidade de vida para estabelecer residência ou passar temporadas prolongadas. Assim, são os países periféricos, com moedas desvalorizadas, os principais destinos desse grupo, tornando a América Latina, por exemplo, bastante atrativa aos nômades.
Os turistas com alto poder aquisitivo participam ativamente da economia desses locais e, como têm um maior poder de compra, acabam por gerar um aumento nos preços da região, a famosa gentrificação. De repente, os moradores veem seus restaurantes locais substituídos por cafés modernos – e caros. O preço dos aluguéis também tende a aumentar.
Na Cidade do México, por exemplo, o governo revelou uma significativa parceria com a plataforma Airbnb e a Unesco, em 2022, para atrair os trabalhadores remotos. A presença desse grupo na capital levou a um aumento de 20% no valor dos aluguéis, forçando alguns moradores locais a terem que se mudar para bairros mais distantes, segundo o Papo Imobiliário.