O governo dos Estados Unidos tomou o poder dos povos originários no Havaí por meio de um golpe como parte do projeto imperialista, no final do século 19. A monarquia havaiana que governava o arquipélago na época teve um capítulo final em dezembro de 2022, quando a última herdeira do trono morreu.
O falecimento de Abigail Kinoiki Kekaulike Kawananakoa, anunciado pelo Palácio 'Iolani, reacendeu a memória da história deste golpe aplicado pelos EUA em 1893. A tomada de poder teve interesses econômicos e a finalidade de anexação ao federalismo norte-americano, o que de fato ocorreu décadas mais tarde.
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O Havaí foi o último estado anexado pelo governo dos Estados Unidos, em 1959. O arquipélago é composto por um conjunto de 137 ilhas vulcânicas, que desde o início deste ano, é governada pelo democrata Josh Green, nascido no continente americano.
Os primeiros passos
Em 1810, Kamehameha I passou a liderar o governo unificado dos povos originários do Havaí. Antes, cada clã vivia em sua ilha, embora houvesse contato entre elas. Kamehameha I iniciou a dinastia que governaria o Havaí até a deposição pelo golpe aplicado pelos vizinhos, os Estados Unidos.
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Seu herdeiro, Kamehameha II, permitiu a entrada de missionários da Nova Inglaterra, região na costa leste dos EUA. De acordo com a BBC, esse grupo religioso converteu uma quantidade expressiva da população ao protestantismo, além de incentivar latifundiários e empresários estadunidenses a investir na produção de cana-de-açúcar.
Kamehameha III foi o responsável pela promulgação da Constituição do Havaí em 1839, que alterou o sistema político da monarquia absoluta para uma monarquia constitucional. Com a mudança, os missionários estadunidenses formaram o Partido da Reforma, que capturou mais poder político na década de 1870.
A economia por trás do golpe
Tendo em vista os interesses econômicos no arquipélago, os EUA passaram a estabelecer relações diplomáticas com a monarquia havaiana. Três acordos comerciais exemplificam a medida: o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação de 1849; o Tratado Comercial de Reciprocidade de 1875; e a Convenção de Câmbio Monetário de 1883.
Os acordos sinalizaram a dependência da economia havaiana no comércio com os EUA, sobretudo no que se refere à exportação de commodities, como arroz e açúcar. Contudo, a diplomacia custou caro para o Havaí: os tratados incluíram o direito exclusivo de estabelecimento de bases militares dos EUA nas ilhas.
Em 1887, durante o governo de Kalakaua, o Partido da Reforma ameaçou o uso de força militar para pressionar a outorgação da "Constituição da Baioneta", que concedia direito ao voto apenas aos latifundiários e empresários brancos. Esse momento fragilizou a monarquia havaiana e apontou a ascensão política dos missionários.
A tomada de poder
Depois de Kalakaua, chegou ao trono a última soberana do Havaí, Lili'uokalani. Ao tentar revogar a "Constituição da Baioneta", a rainha foi acusada de subverter a Carta Magna e prejudicar os direitos dos comerciantes e latifundiários de origem estadunidense – motivo que levou o embaixador dos EUA no arquipélago, John Stevens, a declarar a intervenção das tropas americanas.
"Eu, Liliuokalani, pela graça de Deus e sob a constituição do Reino do Havaí, Rainha, protesto solenemente contra todo e qualquer ato praticado contra mim e o Governo constitucional do Reino do Havaí por certas pessoas que afirmam ter estabelecido um acordo provisório governo de e para este Reino."
Carta de rendição de Liliuokalani
Com a queda de Lili'uokalani, os Estados Unidos emplacaram um governo provisório no Havaí, apenas para anexá-lo aos EUA em 1898, em uma assinatura do então presidente William McKinley. 61 anos depois, em 1959, o Havaí tornou-se o 50º estado do país.