RESISTÊNCIA

Sobrevivente de massacre contra negros publica obra para que barbárie não seja esquecida

“Nossa dor e demanda por justiça não podem ser ignoradas ou apagadas”, ressalta autora de 109 anos

Viola Fletcher é a mulher mais velha do mundo a publicar um livro de memórias.Créditos: Divulgação
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Com 109 anos, Viola Fletcher, conhecida carinhosamente como “Mother Fletcher” por sua família e amigos, tem uma missão muito importante. Ela acaba de lançar sua obra de memórias “Don’t let them bury my story” (“Não deixem que eles enterrem minha história”), com a colaboração de Ike Howard, seu neto. 

Além de se tornar a mulher mais velha do mundo a publicar um livro de memórias, o principal objetivo de Fletcher é garantir que as pessoas não esqueçam o que aconteceu no massacre de 31 de maio de 1921 em Greenwood, na cidade de Tulsa, Estados Unidos, quando negros estadunidenses foram violentamente assassinados e agredidos na Black Wall Street por policiais brancos e lideranças da região.

Livro lançado por Viola Fletcher. Créditos: Reprodução

Segundo estimativas dos historiadores, ao todo 300 pessoas morreram e outras centenas ficaram feridas. As chamas destruíram 35 quarteirões e deixaram mais de 8 mil moradores desabrigados no distrito.

A acusação falsa de que um jovem negro de 19 anos havia tentado estuprar uma adolescente branca em um elevador foi o que motivou o atentado. Em 19 de maio de 2021 no comitê do Congresso de Washington, Viola contou o que testemunhou no dia do massacre, quando o ato de barbárie completou um século e destacou que ver pessoas assassinadas nas ruas e da vizinhança em chamas é um trauma que a acompanhou pelo resto da vida. “Ainda posso sentir o cheiro da fumaça”, disse ela.

Imagem histórica do massacre em Tulsa. Créditos: Reprodução

Na época, Viola Fletcher, então com apenas 7 anos, e sua família foram forçados a abandonar tudo o que haviam construído após o massacre de Greenwood em Tulsa. A partir daí, a pobreza se tornou uma constante em sua vida. Durante a Segunda Guerra Mundial, Viola trabalhou como soldadora em navios e depois como empregada doméstica ao retornar para Tulsa. 

Ela lembra que a quantidade de comerciantes, médicos, advogados e professores era muito grande em Greenwood e por isso, a região atngida era chamada de Black Wall Street. Após o massacre, todas as tentativas dos moradores de receber indenização ou seguro foram rejeitadas

Com o apoio da organização Justice for Greenwood, os sobreviventes entraram com um processo contra o departamento militar de Oklahoma e a cidade de Tulsa, mas a ação foi ignorada. Hoje está em andamento uma demorada negociação para que a reparação seja feita pelo governo municipal. 

Quase um século depois, racismo persiste

No mesmo mês, quase no mesmo ano, 100 anos depois, George Floyd é assassinado de forma violenta por policiais nos Estados Unidos. Ele morreu asfixiado em 25 de maio de 2020, gerando repercussão e debate em todo o mundo acerca do racismo estrutural nos Estados Unidos. Por décadas, o massacre do dia 31 de maio, data que até recentemente nem aparecia nos livros de história, foi ignorada por Tulsa. 

O movimento para obter indenizações pelo massacre de Greenwood, considerado um dos mais letais atos de racismo nos Estados Unidos desde o fim da escravidão, ganhou novo ímpeto em meio ao movimento antirracista Black Lives Matter (Vidas Negros Importam), mas ainda hoje luta por justiça quase 100 anos depois.

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