A mídia comercial brasileira, alinhada ao discurso propagado pela imprensa dos países ricos, em um típico jornalismo que expressa mais desejo do que fato, alardeou durante semanas que o Brasil seria um empecilho para a ampliação do Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A possibilidade de expansão do Brics é uma das principais pautas a serem debatidas entre os chefes do Executivo dos países do bloco, em Joanesburgo, na África do Sul, reunidos para a 15ª Cúpula de Chefes de Estado dos Brics que teve início nesta terça-feira (22) e prossegue até quinta-feira (24).
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Nesta terça, durante o programa semanal Conversa com o Presidente, Lula reafirmou que quer receber mais países no Brics.
Esse é um debate que vamos discutir, pois vai nos tornar fortes. Nós queremos criar uma instituição multilateral e ter representatividade. Quanto melhor for a relação entre os países, melhores as chances de fazer bons acordos.
A declaração do presidente brasileiro foi feita durante a 11ª edição do programa semanal conduzido pelo jornalista Marcos Uchôa. A entrevista ao vivo foi transmitida de Joanesburgo e teve como tema principal a 15ª Cúpula do Brics.
Lula defendeu a ampliação do bloco para incluir "vários países", desde que esses novos membros demonstrem um "grau de compromisso" com os princípios e objetivos do Brics.
O presidente brasileiro disse ainda que o Brics não deve ser um "clube fechado" e nomeou explicitamente a Argentina como um país que ele considera essencial para a expansão do bloco.
É muito importante a Argentina estar nos Brics. O Brasil não pode fazer política de desenvolvimento industrial sem lembrar que a Argentina tem que crescer junto."
Em artigo publicado pela Fórum, o pesquisador Marco Fernandes, do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, destaca esse descompasso entre o desejo da mídia hegemônica ocidental e o posicionamento de Lula e outros líderes do Brics, como o presidente da Índia, Narendra Modi.
Entre as razões elencadas pela imprensa comercial para justificar a aposta de que a ampliação do Brics não é positiva estaria a possibilidade de fortalecer o Brics como ferramenta de disputa entre as duas maiores potências mundiais: China e EUA.
Por outro lado, a mídia corporativa admite que essa expansão do Brics pode fortalecer os apoios à ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Pauta defendida por Lula e que foi tratada por ele na África do Sul. Atualmente, apenas Rússia e China integram o conselho de forma permanente.
É preciso que a gente convença a Rússia e a China que o Brasil, a África do Sul e a Índia possam entrar no Conselho de Segurança.
Outro argumento explorado pela mídia hegemônica é o de que seria interesse de Pequim firmar o Brics como contraponto ao G7 - grupo formado pelas sete maiores economias mundias: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da presença da União Europeia.
Pelas redes sociais, Lula rebateu esse interesse por parte do Brasil.
O Brics não é contraponto ao G7, nem ao G20, nem contra ninguém. Queremos nos organizar enquanto Sul Global, uma coisa que não existia antes. Somos importantes no debate global, sentando na mesa de negociação, em pé de igualdade com a União Europeia e os Estados Unidos.
Expansão do Brics é inevitável
Quer a imprensa brasileira e dos países ricos gostem ou não, a expansão do Brics é inevitável. No governo brasileiro, é considerada uma certeza. O que falta é acertar os critérios e normas de admissão de novos membros do bloco.
A estimativa é que esse processo de adesão de novos países leve pelo menos seis meses. A expectativa é de que ao final da Cúpula de Joanesburgo o Brics seja anunciada a chegada de cinco ou seis membros. Correm na frente Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Indonésia, Argentina e Irã.
Nesta terça, os líderes do bloco e seus ministros de Relações Exteriores estão reunidos em uma espécie de retiro para bater o martelo sobre o Brics ampliado.
Dentre os critérios que estão sendo avaliados para a admissão de novos países no Brics estão a exigência de que o postulante seja membro do G20 ou do Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco do Brics. O Brasil também está pressionando para que os novos membros concordem com as posições históricas do grupo, como a reforma da governança internacional.
No total, 23 países formalmente solicitaram a adesão ao bloco econômico. Dentre eles estão: Argélia, Argentina, Bangladesh, Bahrein, Belarus, Bolívia, Cuba, Egito, Etiópia, Honduras, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Arábia Saudita, Senegal, Palestina, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e Vietnã.
Assista ao Conversa com o Presidente