LÍBANO

Esse país tenta eleger presidente pela 12ª vez consecutiva e não consegue; entenda

Nação "irmã" do Brasil simplesmente não consegue formar um governo estável há anos

Dificuldade de compor governo trava um Líbano em meio a recessão profundaCréditos: Wikimedia Commons
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O Líbano está sem presidente desde o dia 30 de outubro de 2022. E nesse ínterim, tentou eleger um chefe de estado para o país em 12 ocasiões, mas nenhum candidato conseguiu vencer o pleito. E os motivos vão para além de uma simples crise política, mas revelam algo a mais sobre a nação irmã do Brasil, que abriga uma grande diáspora lubnani.

A sociedade libanesa tem vivido crise atrás de crise desde 2019, quando a inflação atingiu o país drasticamente. Beirute, conhecida por ter um dos sistemas financeiros mais eficientes do Oriente Médio viu seus bancos falindo e, posteriormente, outras duas crises viriam: a pandemia de covid-19 e a explosão no porto de Beirute.

Explosão no porto de Beirute intensificou grave crise econômica no Líbano em 2020 (Foto: Reprodução/Youtube/CNN)

Se o país ensaiou alguma recuperação causada pela crise tripla, sua economia também se fragilizou por conta do conflito Rússia-Ucrânia, tornando a vida da população libanesa insustentável. A crise de liquidez e a desvalorização da libra libanesa fez com que pessoas com reservas em dólares tivessem que assaltar bancos para poder retirar seu próprio dinheiro das instituições.

Essa crise econômica e social fez com que, em outubro do ano passado, o presidente Michel Azour, que foi um líder do país durante sua guerra civil, renunciou ao cargo após sequenciais protestos de rua.

Imobilidade política

Desde 2022, o parlamento libanês tenta articular um nome para as eleições indiretas. O problema é que o Líbano tem um sistema político estranho, feito como uma garantia para o fim da guerra civil. O "pacto nacional" divide poderes e estabelece que:

- o presidente é sempre cristão maronita

- o primeiro-ministro é sempre muçulmano sunita

- o presidente do parlamento é sempre muçulmano xiita

- os vice-presidentes do parlamento e do premiê são sempre cristãos ortodoxos

- o chefe das forças armadas tem que ser um druzo

Encontrar um cristão maronita capaz de equilibrar os anseios da oposição e dialogar com o atual governo tem sido extremamente difícil. Nesta terça-feira (14), o parlamento fez uma nova eleição, mas nenhum dos candidatos - Jihad Azour, Suleiman Frangieh e Ziad Baroud - conseguiu alcançar a maioria qualificada de 84 votos para se tornar presidente do país.

Azour é um liberal ligado ao FMI e recebeu 59 votos, e Frangieh é um cristão pró-Síria e pró-Ba'athismo, recebeu 51 votos. Baroud recebeu 7 votos. 

Essa combinação de crises com um sistema extremamente rígido de governo faz com que o país esteja congelado sem acordo possível para governar. Uma alternativa seria dissolver o parlamento para convocar novas eleições, mas, sem presidente, isso fica bem difícil. 

O sistema do pacto nacional é extremamente rígido, mas visto como uma segurança de que uma nova guerra civil não irá ser iniciada no país, inclusive por milícias como Hezbollah. E, mesmo com a crise governamental, os libaneses parecem seguros em sua manutenção de soberania e território.