No próximo domingo (14), os 60 milhões de eleitores registrados na Turquia poderão escolher quem será o presidente do país nos próximos cinco anos.
De um lado, está Recep Tayyip Erdogan, do controversa figura do mundo da política no Oriente Médio, representando o partido de direita AKP. Do outro, está Kemal Kilicdaroglu, do Partido Republicano do Povo, agremiação histórica de centro-esquerda que remonta à independência do país liderada por Mustafá Kemal Ataturk, o herói fundador da Turquia.
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As pesquisas mostram uma pequena liderança de Erdogan com cerca de 32% dos votos, enquanto Kilicdaroglu tem cerca de 29%. Nas demonstrações de intenção de voto entre os dois, Erdogan ganha em metade dos estudos, e Kilicdaroglu ganha nos outros três. A margem de votos não supera 5%. Ou seja: vai ser no voto a voto. Caso o partido vencedor não alcance os 50% dos votos, há segundo turno.
O que está em jogo nas eleições turcas?
Erdogan foi primeiro-ministro da Turquia entre 2003 e 2014 e depois se elegeu presidente. Até 2017, o cargo presidencial era praticamente cerimonial, contudo, após um referendo, Erdogan conseguiu expandir seus poderes e transformou a Turquia em um país presidencialista.
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Ele é considerado um conservador, tradicionalista e é um apoiador de uma maior islamização do Estado turco. Ele é considerado um populista de direita e tem como foco a expansão territorial da Turquia, o distanciamento da União Europeia e uma guerra permanente contra o separatismo curdo.
Kilicdaroglu é um político de centro-esquerda e lidera uma frente ampla de oposição, com participação de diversos partidos, incluindo verdes, liberais democráticos e outros grupos.
Confira os principais pontos da eleição:
- Terremotos e infra-estrutura: Erdogan esteve em posições de poder entre 2003 e 2023, e foi durante o seu governo que a infraestrutura do país foi sucateada, segundo a oposição. Diversos estudos mostram que Erdogan reduziu o investimento na prevenção de desastres, o que levou à gravidade dos terremotos no país neste ano, quando mais de 40 mil pessoas morreram.
- Economia: A Lira turca é uma moeda em processo de desvalorização, o que tem causado aumento gradativo da inflação e problemas para os mais pobres no país.
- Liberdades democráticas: O governo Erdogan tem prendido opositores e realizado uma cruzada para ganhar as eleições de qualquer jeito. Uma das promessas de Kilicdaroglu é aumentar a liberdade de expressão no país, discurso com forte apelo nas cidades costeiras e na região do Curdistão.
- A questão do Curdistão: A atual gestão tem feito uma de suas principais armas o discurso anti-Curdistão - minoria étnica com setores separatistas - e transformado a repressão aos movimentos curdos em uma de suas principais pautas eleitorais.
A importância da Turquia para o Brasil e para o mundo
Para os brasileiros, a Turquia pode parecer um país distante e nos impactar mais pelo turismo do que pela geopolítica. Contudo, a nação que conecta a Europa ao Oriente é essencial para uma série de conflitos armados e, desde a Guerra Fria, é considerado um "fiel da balança" em disputas internacionais complexas.
A Turquia participa ativamente de três conflitos atualmente. Internamente, o país opera uma operação constante de repressão ao Curdistão. Nas suas fronteiras, age na Guerra da Síria, contra o governo Bashar al-Assad e contra os rebeldes curdos de Rojava. Por fim, apoia militarmente seu principal aliado no Cáucaso, o Azerbaijão, na luta contra o estado armênio.
Indiretamente, a Turquia age como mediadora da Guerra entre Ucrânia e Rússia, além estabelecer diálogos entre lideranças palestinas e israelenses, sem contar que ela é uma das protegidas pelos EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Além disso, o país também possui uma grande massa de imigrantes sírios, iraquianos, libaneses e palestinos em seu território e utiliza essa massa de pessoas para conseguir seus desejos frente à União Europeia, que usa o país para frear a migração.
Brasil e Turquia compartilham laços históricos - desde o movimento tenentista, similar aos Jovens Turcos -, uma grande onda de imigração oriunda do país se estabeleceu no Brasil. Além disso, os países mantém fluxo comercial de US$ 4,4 bilhões.