RELAÇÕES INTERNACIONAIS

El País diz que Lula promove uma nova política global

O presidente brasileiro concedeu entrevista ao conceituado jornal espanhol, que destacou a proposta de paz de Lula para o conflito entre Rússia e Ucrânia

O presidente Lula na Espanha.Créditos: Ricardo Stuckert
Escrito en GLOBAL el

Em sua passagem por Madri, na Espanha, o presidente Lula (PT) concedeu entrevista ao conceituado jornal El País. O periódico deu amplo espaço ao brasileiro e destacou que “o Brasil voltou ao mundo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarna esse retorno disposto nada menos que a liderar a busca pela paz na guerra que sangrou a Ucrânia”.

“Lula fala com contundência, mas busca com cuidado palavras que não estraguem suas chances de mediador. Ambiguidades e equilíbrios que causaram irritação em alguns governos nas últimas semanas”, diz a reportagem assinada por Pepa Bueno.

O El País ressaltrou, ainda, qure Lula está promovendo uma nova política global e que, por isso, deve der ouvido pela comunidade internacional.

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Confira trechos da entrevista:

Guerra Rússia x Ucrânia

“A primeira coisa a entender é que esta guerra não deveria ter começado. E começou porque não havia capacidade de diálogo entre os líderes mundiais há muito tempo. O Brasil condena porque a Rússia não tem o direito de invadir o território ucraniano. Então, os russos estão errados. Ou você alimenta a guerra ou tenta acabar com ela. Para mim é mais interessante falar sobre acabar com esta guerra. E ninguém fala de paz, só eu. Fui falar com Biden, com Scholz, com Xi Jinping, com Macron. É preciso se encontrar para acabar com esse conflito. E isso só pode ser feito se dois negociarem em uma mesa. É o que eu defendo”.

“Na Europa existe um patrimônio da humanidade, que é a União Europeia. Acho que a Europa tem um papel mediador, deveria adotar uma espécie de meio termo. A Europa se envolveu muito rapidamente. Por isso é importante procurar líderes que queiram falar de paz. A China pode participar, o México, a Indonésia... Os países que ainda não estão direta ou indiretamente envolvidos e os que são solidários com a Ucrânia porque são contra a ocupação territorial da Rússia devem ser envolvidos. Devemos unir todos esses países. Na próxima semana vou falar com Macron e com outros presidentes para tentar encontrar essa paz. Já temos uma guerra contra a extrema direita no mundo, o fascismo voltou, o nazismo voltou. Não podemos ter uma guerra na Europa novamente. Será que não aprendemos com a Primeira Guerra Mundial, com a Segunda? Quanto mais paz tivermos, mais produtivo será o mundo e mais justo. Essa é a tese que continuarei a defender”.

“Quando [o chanceler da] Alemanha visitou o Brasil, ele nos pediu para enviar mísseis de tanques comprados da Alemanha para a guerra. Eu disse a Scholz que não ia vendê-los porque se um míssil for lançado e a Rússia descobrir que o Brasil o vendeu, o Brasil entra na guerra. E quando você entra, não pode falar de paz. Quero falar com os países que não estão de forma alguma ligados à guerra para restabelecer a paz. Acredito que, se conseguirmos, estaremos prestando um bom serviço à humanidade. Porque se não a guerra não tem fim, porque Putin acredita que tem razão, e Zelenski, invadido, tem o direito de se defender. Então, quem vai acabar com a guerra? Preocupa-me que esta guerra esteja ligada a interesses políticos eleitorais. Isso já aconteceu outras vezes no mundo e não acho justo que haja uma guerra sem que ninguém construa a paz. Vou tentar fazer isso. Sei que o Brasil ainda não participa do Conselho de Segurança da ONU. Mas aqueles que ocupam esses cargos também não. A ONU tem a representação política de 1945. A geopolítica de 1945 não existe mais. A ONU deve ser adaptada para 2023”.

“Os direitos humanos para mim estão acima de tudo. Para o Brasil, não há negociação que não leve em conta a questão do respeito aos direitos humanos. E a guerra é a violação dos direitos humanos. Devemos parar a guerra, porque você pode reconstruir uma casa, uma ponte, uma estrada, mas não pode reconstruir uma vida”.

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Economia e preocupação social no Brasil

“Ainda estamos longe de atingir os níveis de emprego que almejamos. Temos 11% de desemprego no Brasil. Quando Dilma [Rousseff] saiu do governo chegamos a 4,3%. Meu objetivo é fazer crescer a economia brasileira, incentivar os empresários a melhorar seus investimentos. Vamos apresentar um pacote de obras de infraestrutura em maio para promover a entrada de outros investidores, principalmente espanhóis. É um dos motivos da minha visita”.

“No meu primeiro mandato, não só acabamos com a fome, como aumentamos a qualidade de vida dos brasileiros. Agora, tivemos um revés. Ainda há 33 milhões de pessoas que passam fome no Brasil. Precisamos de empregos de qualidade e criar uma nova relação entre capital e trabalho, porque no Brasil a estrutura sindical foi desmantelada. A democracia é possível graças a sindicatos fortes, ao diálogo estabelecido entre empregadores e trabalhadores. É simples: O Brasil precisa crescer e para isso o Estado deve fazer o seu papel de gerar confiança, credibilidade junto aos empresários. Com esse comportamento faremos do Brasil um país de credibilidade externa”.

Meio ambiente

“É um compromisso que assumi durante minha campanha e vamos cumpri-lo. O desmatamento e as queimadas devem ser proibidos. O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas. Nenhuma árvore deve ser derrubada no Brasil porque não é necessário: o Brasil já é o maior produtor de proteína animal. É importante melhorar nossa produção agrícola para alimentar nosso povo e os povos de outros países, mas, acima de tudo, cuidar do meio ambiente, das terras indígenas. É uma obrigação moral, ética, política e ambiental. No final do meu governo, você poderá me dizer se eu cumpri”.

Sobre Bolsonaro

“Não tenho dúvidas de que ele (Jair Bolsonaro) tentou dar um golpe. Isso ia acontecer desde o primeiro dia da minha posse, mas como era muita gente, esperei uma semana. Eu vi tudo pela televisão, eles assaltaram o Palácio do Planalto, houve descaso de quem estava assistindo e entraram no Congresso Nacional, no STF e no Palácio. Agora, tem gente na cadeia. Procuramos também quem financiou, quem pagou, por exemplo, os veículos em que vieram. Agora, o secretário de Segurança de Brasília está preso. Temos a convicção de que tudo foi organizado por Bolsonaro e sua equipe. Ele foi indiciado por 34 acusações e mais serão incluídas, especialmente processos internacionais. Ele é acusado da morte de mais de 300 mil pessoas, por causa das mais de 700 mil que morreram no Brasil [devido à pandemia]. Ele é responsável pela morte de mais da metade por não ter comprado as vacinas necessárias e por comprar remédios que são inúteis”.