O renomado sociólogo e pesquisador português Boaventura Santos é alvo de novas denúncias de assédio sexual. Agora, uma pesquisadora brasileira diz ter sido vítima de Santos.
A história veio à tona após acusações feitas por três pesquisadoras em artigo publicado no livro “Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University” (Má conduta sexual na academia – para uma ética de cuidado na universidade/ Routledge, 2023).
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Matéria publicada nesta quinta-feira (13) no jornal Público, de Portugal, traz uma entrevista com uma das mulheres citadas no artigo de Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya.
Sem revelar a identidade, a acadêmica brasileira afirma que à época do ocorrido (há 10 anos) registrou denúncias na direção do Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, mas que até hoje nenhuma medida foi tomada.
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Ao jornal, a pesquisadora brasileira conta que durante uma reunião de trabalho, Boaventura tocou-lhe no joelho e a convidou a "aprofundar a relação como forma de pagamento pela orientação acadêmica".
Após recusar as investidas de Boaventura Santos, a pesquisadora brasileira afirma que passou a ser alvo de retaliação por parte de Boaventura. Ao jornal português ela disse que, diante de tal situação, "não havia como continuar" e regressou ao Brasil.
Além disso, a brasileira também afirma que as histórias relatadas no artigo são apenas “a ponta do iceberg”.
A reportagem do jornal Público ainda fala A matéria do Público também fala de "várias outras investigadoras com ligação ao CES e em comportamentos sexualizados e sexualizantes no seio da instituição".
“Ninguém vai acreditar em você”
Além da brasileira, a pesquisadora argentina Moira Ivana Millán também acusa Boaventura Santos de assédio. O caso teria ocorrido quando, em 2010, ela deu aulas no CES.
"Esse senhor convidou-me para jantar num lugar onde estávamos sozinhos. Ele começou a beber e me pediu para ir ao seu apartamento para buscar uns livros que iria me emprestar. E quando fui ao apartamento desse senhor, esse senhor atirou-se em mim", revelou a pesquisadora argentina.
Moira afirma que se sentiu "devastada". "Um argentino que me alojou em Lisboa, quando voltei de Coimbra, devastada pelo que aconteceu, sentindo o racismo e o patriarcado à flor da pele pelo que ele tinha feito comigo. Esse argentino disse-me: 'Moira, não digas nada. Ele é a esquerda em Portugal e na Argentina ninguém vai acreditar em ti, pois ele é visto como um guru do pensamento de esquerda", disse a Moira à TVI.
Boaventura se diz "vítima de difamação” e afirma que vai processar denunciantes
Por meio de um e-mail enviado à direção do Centros de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, de onde é diretor emérito, cujo título é "Diário de uma difamação", Boaventura afirma que "independente dos procedimentos internos e judiciais que o CES venha a dotar, vai apresentar uma queixa-crime por difamação contra as autoras".
"Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, que no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento", diz Boaventura na mensagem.
O pesquisador também afirma que o artigo, que não cita o seu nome, mas faz entender que o alvo é ele, "é uma difamação anônima, vergonhosa e vil". Santos também atenta para o fato de que "toda a informação caluniosa que visa atacá-lo é anônima e assente em boatos". Por fim, o sociólogo também declara que "não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela".
Entenda o caso
O sociólogo e escritor Boaventura de Sousa Santos está sendo acusado de assédio sexual por três alunas do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde é o diretor. Aos 82 anos ele é considerado o mais importante intelectual português do momento, nega as acusações e alega que é vítima de ‘cancelamento’.
As alunas denunciam o suposto abuso cometido contra uma colega estrangeira que teria deixado o país após os acontecimentos. Ele teria tocado seus joelhos e a convidado a “aprofundar o relacionamento” como uma espécie de contrapeso ao apoio acadêmico que teria dado à aluna.
As denunciantes não entraram em maiores detalhes, apenas disseram que seria comum, no convívio com Boaventura, a ocorrência de abraços longos e excessos de familiaridade. “Exigir objetividade a uma descrição de sobrevivente é um ato de violência”, explicam
A denúncia foi feita em artigo publicado no livro “Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University” (Má conduta sexual na academia – para uma ética de cuidado na universidade). A obra foi publicada no último mês de março pela Routledge, uma das principais e mais prestigiadas editoras de obras acadêmicas do mundo, sediada no Reino Unido. No texto, as autoras não citam o Boaventura ou o CES da Universidade de Coimbra, mas descrevem professor e instituto de forma detalhada.
No artigo, a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom descrevem Boaventura de Sousa Santos como o “professor estrela com mais de 70 anos”, por exemplo
Além de Boaventura, as denúncias também abrangem um auxiliar seu, chamado no artigo de “O aprendiz”, que teria como temas de interesse racismo, direitos humanos e colonialismo. De acordo com o site português Diário de Notícias, seria o pesquisador Bruno Sena Martins, de 45 anos. Ele nega as acusações.
Ao mesmo jornal português, Boaventura de Sousa Santos confirmou que o texto o retrata e disse que as autoras só não o citaram para evitar um eventual processo na Justiça. “Querem lançar lama sobre quem se distingue e luta por um mundo melhor. Aos 82 anos de idade, julgava ter direito a um pouco de paz, mas infelizmente o mundo em que vivemos não permite que isso suceda”, afirmou.
O CES divulgou nota para a imprensa na qual reconhece a descrição do instituto feita pelo texto e afirma que a academia pode produzir relações de poder desiguais que desembocam em situações como as descritas. Além disso, também anunciou a criação de uma comissão independente para apurar as denúncias.