O presidente da Guiana, Irfaan Ali, proferiu um forte discurso à nação durante o evento "Noite de Reflexão Patriótica", transmitido ao vivo em sua página no Facebook, direto da Costa do Essequibo, no Estádio Nacional em Providence, neste domingo (3).
No pronunciamento, Ali abordou o referendo na Venezuela sobre a anexação do território de Essequibo. Ele descreveu a consulta como uma "controvérsia" e enfatizou que "não há motivo para temor".
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O presidente guianense destacou que ações de vigilância estão sendo intensificadas nas fronteiras e exigiu respeito às leis internacionais. Ele afastou rumores de medo diante da investida pelo território.
Asseguro à Guiana que não há nada a temer durante as próximas horas, dias e meses. Mas, é claro, nossa vigilância vai melhorar. Estamos trabalhando 24 horas para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas e que nosso povo e nosso país permaneçam em segurança.
Ali também enfatizou que a atenção global ao episódio não se deve a um suposto "aumento da ameaça e imprudência por parte da Venezuela", mas sim ao nível de conscientização da Guiana. "Sempre dissemos que nossa primeira linha de defesa é a diplomacia, e estamos muito fortes nessa frente", afirmou.
Ele instou ainda o governo venezuelano a demonstrar maturidade e responsabilidade, em vez de seguir adiante com ações que poderiam torná-lo um pária internacional.
Não vou entrar na política interna da Venezuela e na formulação de suas políticas, mas quero aconselhar a Venezuela que esta é uma oportunidade para eles mostrarem maturidade e uma oportunidade para demonstrar responsabilidade. Novamente os convocamos a se juntarem a nós, a demonstrar maturidade e responsabilidade e a permitir que o estado de direito determine o resultado desta controvérsia.
Durante seu discurso à nação, Ali lembrou à Venezuela de que a comunidade internacional está ao lado da Guiana e que a mudança para a Corte Internacional de Justiça (CIJ), organismo das Nações Unidas, para um acordo final e vinculativo é bem apoiada.
Somos seus vizinhos e nos ensinaram a amar nossos vizinhos como a nós mesmos. Muito depois desta controvérsia, temos que viver como vizinhos. Estamos trabalhando dia e noite para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas e que o povo e nossos países permaneçam seguros. Desafios trazem o melhor nas pessoas e estou muito orgulhoso de como nós, guianenses, lidamos com este desafio.
Entenda a disputa de Essequibo
O conflito territorial entre a Venezuela e a Guiana sobre a região de Essequibo tem raízes profundas, iniciando-se no século XIX com o estabelecimento das linhas Schomburgk pela Grã-Bretanha, que desconsideraram as fronteiras estabelecidas pelo rio Essequibo, como delineado no mapa da Capitania Geral da Venezuela de 1830 e na Constituição venezuelana.
O laudo arbitral de Paris em 1899, mediado pelos EUA sob a Doutrina Monroe, sem representação venezuelana, resultou na perda de 90% do território disputado pela Venezuela. Este laudo foi posteriormente revelado como fraudulento, levando a Venezuela a lutar na ONU para sua anulação.
Após a independência da Guiana da Grã-Bretanha em 1966, a Venezuela reivindicou o rio Essequibo como linha divisória, mas a nova Guiana reconheceu suas fronteiras como as da ex-colônia britânica.
O Acordo de Genebra de 1966 buscou uma solução pacífica, mas não avançou significativamente.
Durante o governo de Hugo Chávez, a Venezuela enfatizou a busca por uma solução diplomática, rejeitando a arbitragem de 1899 e comprometendo-se com o Acordo de Genebra.
A situação se agravou em 2015 com a Exxon Mobil iniciando atividades petrolíferas em águas disputadas, deteriorando as relações entre Venezuela e Guiana.
Em 2020, a Corte Internacional de Justiça se declarou competente para julgar um pedido unilateral da Guiana, ignorando o Acordo de Genebra.
Atualmente, há exploração de petróleo na região, estimando-se grandes reservas, com a Guiana sendo representada por advogados financiados pela Exxon. Este conflito, impulsionado por interesses externos, ameaça a paz na América do Sul.