MILÍCIA FUNDAMENTALISTA

Kata'ib Hezbollah: quem é o grupo iraniano usado pelos EUA para justificar ataques ao Iraque

Milícia shiita atua no Oriente Médio como força antiestadunidense e ganhou destaque na invasão do Iraque, em 2003

Ex-líder do Kata'ib Hezbollah foi assassinado pelos EUA.Créditos: Reprodução/X/@haricitr
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O grupo iraniano Kata'ib Hezbollah foi alvo de ataques por drones do Exército dos Estados Unidos na noite desta segunda-feira (25), no Iraque. De acordo com o governo estadunidense, a organização islâmica teria ferido três militares na base aérea de Erbil, apenas 12 horas antes, e motivado uma retaliação.

A operação militar dos EUA atingiu um edifício do grupo das Forças de Mobilização Popular (PMF, de nome original Hashd al-Shaabi) na cidade de Hilla, enquanto direcionou outra investida à província de Wassit. Os ataques resultaram na morte de um membro do Kata'ib Hezbollah e em 20 pessoas feridas, incluindo civis.

Kata'ib Hezbollah

O Kata'ib Hezbollah (KH) é uma milícia xiita com o projeto político de formação de um governo iraquiano pró-Irã mediante a expulsão das forças estadunidenses da região. Por meio de operações no Iraque e na Síria, o KH busca expandir os interesses iranianos pelo Oriente Médio.

Formado em 2003, durante a guerra do Iraque, o grupo destacou-se por usar granadas lançadas por foguete – armamento popularmente conhecido como bazuca – e morteiros contra forças dos Estados Unidos e aliados. Estes explosivos eram financiados pelo Irã.

Em agosto de 2007, o embrião do grupo anunciou sua integração ao Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica (IRGC, da sigla em inglês) e passou a estar associado à Força Quds, braço paramilitar da Guarda Revolucionária Iraniana. 

Na época, chefiava a milícia o ex-líder Jamal Jaafar Ibrahimi, também conhecido como Abu Mahdi al-Muhandis. Ele ocupou o cargo de comandante operacional da PMF e teria participado nos ataques às embaixadas estadunidense e francesa no Kuwait, em 1983.

Muhandis era conselheiro do enviado militar do Irã no Iraque, Qasem Soleimani, general e líder da Força Quds. Ambos foram assassinados pelos EUA em ataque aéreo por drone no Aeroporto Internacional de Bagdá, em janeiro de 2020.

Após a saída do exército estadunidense do Iraque, em dezembro de 2011, o KH enviou soldados para defender o regime de Bashar al-Assad, na Síria, e combater rebeldes sunitas em outras regiões do Oriente Médio. Em 2015, o grupo movimentou mais de mil soldados para Aleppo, capital síria, a pedido de Soleimani. 

Mesmo sem combater diretamente os militares dos EUA, o Kata'ib Hezbollah seguiu com posicionamento antiestadunidense e visou ocupar o vácuo de poder criado pela queda do Estado Islâmico (ISIS) no Iraque e Síria.

De acordo com o relatório de terrorismo, realizado pelo Departamento de Estado dos EUA, em 2020, apontou que o grupo "tem notório uso extensivo de operações de mídia e propaganda, como a filmagem e publicação de vídeos de ataques".

"Em 2016, o KH continuou a lutar contra o ISIS junto do exército iraquiano, mas também operou fora da estrutura governamental de comando e controle do Iraque. Em 2017 e 2018, o KH publicou avisos ameaçando combater a presença dos EUA no Iraque."

Em janeiro de 2018, o KH se ligou à Organização Badr e ao Asaib Ahl al-Haq (AAH) para formar o partido político Aliança Fatah, tendo em vista as eleições gerais do Iraque, em maio. A legenda conquistou 47 cadeiras no Parlamento e, no mês seguinte, formou uma coligação com a Aliança Muqtada al-Sadr’s Sairoon, que venceu as eleições.

Em março daquele ano, o então primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, aprovou um decreto que formalizou a inclusão de grupos paramilitares xiitas nas forças de segurança nacional, inclusive o KH. 

O seu sucessor, Adil Abdul Mahdi, assinou um decreto que colocou duas opções às milícias da PMF no país: ser um grupo paramilitar ou político Na prática, a escolha determinava a integração às forças armadas iraquianas ou o desarmamento. 

O KH rechaçou o decreto ao caracterizá-lo como um esquema regional e internacional que "enfraqueceria a segurança" e "fortaleceria a presença e objetivos do inimigo americano, produzindo outro ISIS".

Nos meses seguintes ao assassinato de Ibrahimi e Soleimani, o KH e os Estados Unidos entraram em confiltos que envolveram o lançamento de mísseis em Bagdá e à embaixada dos EUA na zona diplomática.  Segundo o grupo, o ataque teria sido lançado para "prevenir a situação de sair do controle".

Em maio daquele ano, o ex-chefe de Inteligência do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, foi nomeado primeiro-ministro de transição, sob ameaças do Kata'ib Hezbollah. Com a prisão de 14 militantes do KH, o grupo ameaçou Kadhimi de morte novamente em junho.

Nas eleições de outubro de 2021, a Aliança Fatah conseguiu apenas 14 cadeiras parlamentares. O membro do KH e ex-chefe de segurança, Hussein Muanis concorreu com o partido Harakat Huquq e teria integrado o governo do Iraque. Na noite do pleito, líderes das milícias pró-Irã se reuniram na casa do ex-primeiro-ministro, Nouri al-Maliki para discutir um "aumento" de suas atividades no país.

No mês seguinte, a residência de Kadhimi foi alvo de ataque aéreo por drones, em Bagdá. O episódio marcou um enfraquecimento no elo entre o Irã e o KH: o apoio do governo iraniano a um segundo mandato do primeiro-ministro iraquiano teria gerado descontentamento do KH, que desobedeceu ordens do general iraniano Esmail Ghaani.

Em 2023, o Kata'ib Hezbollah aprofundou relações com outras organizações fundamentalistas islâmicas com o genocídio do povo palestino provocado por Israel, no conflito com o Hamas.

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