No início de novembro, uma gigantesca manifestação pró-Palestina surpreendeu Washington. Jovens de todo o país haviam se mobilizado e encheram as ruas da capital dos Estados Unidos.
Os eleitores jovens tem sido decisivos nas eleições estadunidenses. Votaram em número recorde para levar Barack Obama ao poder. A participação não foi tão grande na eleição de Joe Biden, mas foram os jovens que carregaram nas costas a pré-campanha de Bernie Sanders, radical para os padrões do Partido Democrata.
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Assustado com o que se viu no DC, o lobby pró-Israel fez uma mobilização nacional em resposta e colocou centenas de milhares de pessoas nas ruas de Washington em defesa do direito de defesa de Tel Aviv em relação ao Hamas.
O xis da questão reside justamente aí: os jovens dos Estados Unidos não são mais suscetíveis ao tradicional lobby judaico. Muitos se informam pelas redes sociais e tem acesso a conteúdos que não aparecem em diários tradicionais como o New York Times e o Washington Post.
Uma pesquisa publicada hoje pelo Times mostra que quase 75% dos estadunidenses de 18 a 29 anos de idade rejeitam o comportamento de Joe Biden na guerra de Gaza, de apoio total à proposta de Benjamin Netanyahu de eliminar o Hamas e ocupar o território palestino.
Dentre eles, os que são registrados para votar agora favorecem Donald Trump por 49% a 43%, quando em julho Biden tinha vantagem de 10 pontos nesta faixa.
Organizados principalmente em universidades, os militantes pró-Palestina dos EUA focam em boicote econômico a Israel, suspensão da venda de armas por Washington e uma solução de dois estados. Uma franja defende estado único e laico, com total reconhecimento dos direitos dos árabes e palestinos em Israel -- uma pessoa, um voto.
APARTHEID
As comparações entre o apartheid na África do Sul e em Israel são correntes nesta faixa do eleitorado. O regime racista, afinal, confinou negros em bantustões que não tinham condições de se desenvolver economicamente.
Hoje, Israel tranca os palestinos na Cisjordânia e em Gaza e, quando muito, usa os palestinos como mão-de-obra barata. Tem um sofisticado sistema de câmeras e sensores batizado de "apartheid eletrônico".
Na pesquisa de hoje divulgada pelo Times, quando se considera todos os entrevistados, 57% não aprovam como Biden lida com a crise e 33% aprovam.
Para 46%, Donald Trump faria um trabalho melhor, contra 38% que apontaram Biden.
Nas últimas semanas, os EUA vem exercendo pressão de bastidores para o governo de Israel mudar sua estratégia e deixar de fazer bombardeios indiscriminados, que já mataram 20 mil pessoas, 70% delas mulheres e crianças.
Porém, os EUA vetaram duas resoluções apresentadas no Conselho de Segurança que resultariam em cessar-fogo imediato e continuaram fornecendo os armamentos requisitados por Israel para levar adiante a ofensiva.
Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório. Jovens que não se sentirem representados pelas políticas de Biden podem simplesmente ficar em casa, quando em geral são os voluntários de campanha mais entusiasmados.