MEIO AMBIENTE

COP 28: o evento ambientalista que as petroleiras mais amam

O guardanapo final da COP não diz nada com nada, e se não existisse ninguém ia sentir falta

Sultão Ahmed al Jaber, que não acredita na mudança climática, presidiu a COPCréditos: COP28 / Christopher Pike)
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Nesta quarta-feira (13), a COP 28 fechou o seu documento final.

A conferência, que tem como foco debater temas do meio ambiente para estabelecer um plano de ação coordenado e global com o objetivo de alcançar as metas do Acordo de Paris, foi um retumbante fracasso.

A versão final do documento que encerra a COP 28 afirma que é necessário abandonar os combustíveis fósseis até 2050, que é a mesma meta estabelecida nos acordos de 2015.

Com muita luta, os ambientalistas conseguiram fazer com que o evento fosse concluído com pelo menos a meta do Acordo de Paris de 1,5º C até 2050, que sequer era citada em uma versão anterior do documento.

Ou seja: serviu para que?

O evento foi sediado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e presidido pelo sultão Ahmed al-Jaber, um dos maiores empresários do petróleo do mundo que fez um discurso negacionista sobre as mudanças climáticas no evento.

Lula falou bonito e mostrou o papel de liderança do Brasil, mas não conseguiu tensionar com as verdadeiras forças que controlam a COP para aprovação de um compromisso real pela transição.

O lobby petroleiro tem penetrado cada vez mais forte no evento. A capacidade de decidir contra o petróleo diminui todos os anos e os combustíveis fósseis tem tornado a agenda climática cada vez mais difícil. O documento final da COP 28 sequer cita o ouro líquido.

O número de lobistas que trabalham em nome da indústria de combustíveis fósseis com acesso à COP28 aumentou para um recorde de pelo menos 2.456 contra 636 do ano passado, de acordo com um estudo realizado para a coligação Kick Big Polluters Out que inclui a Global Witness, Corporate Accountability e Corporate Europe Observatory, bem como outros grupos da sociedade civil.

E os governos, cujos olhos brilham para a possibilidade de investimentos dos petroimpérios em seus países, aceitam as posições rebaixadas.

Se o evento um dia foi importante e reunia políticos, empresários e ativistas compromissados com a mudança, e tinha algum poder decisório, isso já passou.

Uma nova abordagem

A crise climática é a maior ameaça à segurança global que temos. 

As conversas bonitas, os compromissos pelo futuro e os acordos de Kyoto, Paris, e as trocentas COPs que foram realizadas nos últimos 30 anos não parecem efetivas e não parecem dar a necessário urgência para o caso urgente em que vivemos.

Há alguns anos acompanhamos as COPs e os debates são sempre sobre a inclusão do termo x ou do termo y dentro de um documento final que será tratado como guardanapo pelas gigantes do petróleo e pelas superpotências.

Uma escapatória é o discurso bonito, o documento, o painel de LED e os acordos em que todos os países do mundo se comprometem com a transição que nunca chega.

Sentar-se todo ano à mesa para falar que a mudança climática é uma certeza e que precisamos fazer alguma coisa é um terrível gasto de dinheiro.

Enquanto as grandes potências globais - como salientou a ministra Marina Silva - não se restrinjam entre si para uma transição energética verdadeira, vamos correr em círculos.

A COP 30, no Brasil, é triste dizer, deve ser mais um evento desses, sem muito o porquê de existir. Estarão em Belém os lobbyistas da BP, da ExxonMobil, da Gazprom, da Shell e dos países do Golfo Pérsico.

Ou se faz uma abordagem verdadeiramente combativa dos países contra essa ameaça, baseada na segurança de seus próprios cidadãos, ou iremos, novamente, gastar tempo e dinheiro para um evento que vai acordar o que já está acordado: não vai existir transição de curto prazo.