COMUNICAÇÃO DO GOVERNO

Portugal: governo retira elementos cristãos de símbolo oficial

Nova marca oficial deve ser "inclusiva, plural e laica", segundo designer

Marcelo Rebelo de Sousa.Créditos: Divulgação
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O governo de Portugal, liderado pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, alterou a marca oficial de comunicação e retirou os símbolos cristãos para a remodelação da imagem mais "inclusiva, plural e laica" do país. O debate a respeito do logotipo tornou-se tema da campanha política nas eleições legislativas, que ocorrerão em março de 2024.

As críticas dizem respeito à retirada de elementos cristãos que fazem parte da bandeira do país, implementada em 1911: a esfera armilar, que representa a expansão marítima portuguesa; e do brasão com os cinco escudos azuis sobre base branca e sete castelos sobre faixa vermelha.

Os escudos azuis são as quinas, referência aos cinco reis derrotados pelo rei D. Afonso Henriques na batalha de Ourique de 1150, onde os cristãos derrotaram os mouros, um povo muçulmano. Já os sete castelos simbolizam as fortificações da região de Algarve, conquistada pelos portugueses dos mouros.

Dentro de cada um dos escudos, cinco pontos brancos remetem às chagas de Cristo, mais uma relação de Portugal com o cristianismo.

O novo símbolo oficial do governo – dois retângulos, um verde e um vermelho, e uma bola amarela ao centro – não agrada o líder da oposição na Assembleia da República, Luís Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD), que não deve utilizar o logotipo caso seja governo.

 Com o meu governo, deixaremos de usar o novo símbolo. No nosso projeto não fazemos sucumbir as nossas referências históricas e identitárias a uma ideia de sofisticação.

O governo justificou a reformulação da marca oficial com a preservação da bandeira e da identidade portuguesa: "Esta imagem torna-se mais operacional, ao mesmo tempo que reserva e preserva a bandeira nacional, diz um manual de comunicação.

Através da síntese formal, a nova imagem afirma-se também inclusiva, plural e laica (...) Responde de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital.

A visão do designer

O designer Eduardo Aires foi contratado pelo governo português para alterar a identidade visual da comunicação oficial, em contrato de 74 mil euros (R$ 394 mil). "Esta encomenda implicou a concessão de um sistema de identidade e arquitetura de marca, neste caso bastante complexo dados os vários níveis da estrutura governamental", comentou ele sobre a mudança.

De acordo com ele, as críticas do público são "pouco consciente desses processos", mas que poderiam ser "dissipadas com informação e esclarecimentos". 

A nossa bandeira é um símbolo nacional consagrado pela Constituição, e não é minimamente posta em causa por este símbolo. Muito pelo contrário.

Aires foi questionado sobre a retirada dos elementos cristãos, referências históricas que foram substituídas por um círculo amarelo. "O símbolo do Governo pode ser autônomo das narrativas históricas fundacionais, e das formas que as representam, e isso não quer dizer que as contrarie ou que lhes renuncie", defendeu. Para ele, os símbolos representam dimensões diferentes e desempenham outras funções.

[O símbolo] representa apenas um dos quatro órgãos de soberania nacional, e não a sua totalidade [...] Este órgão em particular conduz a administração do país, portanto a visibilidade do símbolo é maioritariamente administrativa.