NÃO FOI BOLSONARO

Entenda a articulação do governo Lula para resgatar brasileiros em Gaza

Bolsonaro cria narrativa falaciosa ao se reunir com embaixador israelense em meio às negociações do Itamaraty com Israel

Avião presidencial está de prontidão no Cairo para resgatar os brasileiros retidos na Faixa de Gaza.Créditos: Foto: Gov.Br/Embaixada do Brasil na Palestina
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Nesta quinta-feira (9), o governo de Israel informou ao governo brasileiro que o grupo de 34 brasileiros que está na Faixa de Gaza, finalmente, será autorizado a deixar o local, epicentro dos ataques e bombardeios das forças militares israelenses contra palestinos, na sexta-feira (10). 

O grupo foi deixado de fora das 6 listas de estrangeiros autorizadas por Israel a saírem de Gaza pela fronteira com o Egito e, a cada informe de que os brasileiros não poderiam ser libertados, a situação foi ficando mais tensa e um princípio de crise diplomática se instaurou. 

O ápice do mal-estar se deu nesta quarta-feira (8). Trata-se da última data que o governo de Israel havia garantido que os brasileiros seriam autorizados a deixar a região. Após nova frustração e mais uma retenção do grupo, no final da tarde, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, participou de uma reunião com parlamentares de extrema direita e o ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional - o que representa uma afronta ao governo brasileiro. 

Conforme era esperado, Bolsonaro e seus seguidores vêm usando a confirmação de Israel de que os brasileiros em Gaza serão libertados para associar ao ex-presidente a façanha. Como a saída do grupo do epicentro do conflito já era iminente, visto que essas pessoas já estavam há mais de um mês retidas, o ex-mandatário aproveitou o momento para criar a narrativa de que foi ele o responsável por salvar os brasileiros de uma tragédia. 

Não à toa, Bolsonaro já se apressou, logo após a informação de que os brasileiros deixarão Gaza na sexta-feira (10) vir à tona, que pediu apoio ao governo de Israel para a liberação do grupo. 

“Conversei com o assessor especial do Benjamin Netanyahu e ex-embaixador do Brasil e pedi um apoio para a liberação dos brasileiros. Yossi me relatou que não há nenhuma medida restritiva, não há nenhum empecilho por parte do governo de Israel. Israel concordou que os brasileiros têm que sair da região, seja por Israel ou pelo Egito”, disse em entrevista à CNN Brasil. 

Acontece que a narrativa é falaciosa. Bolsonaro não teve nenhuma influência na decisão do governo de Israel em autorizar a saída do grupo da Faixa de Gaza. 

Articulação do governo Lula 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos primeiros do mundo a realizar operações de repatriação em Israel logo após o ataque do grupo islâmico-palestino Hamas em 7 de outubro. Desde esta data, o Brasil resgatou 1.445 pessoas em territórios israelenses e na Cisjordânia em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). 

Em 13 de outubro, Lula enviou para Cairo, a capital do Egito, o avião presidencial, que desde então está na cidade à espera de autorização para trazer os brasileiros retidos na Faixa de Gaza. O longo deste período, o presidente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e diplomatas do Brasil vêm mantendo diálogo constante com o governo de Israel na tentativa de retirar o grupo de brasileiros da zona de guerra. 

Foi o governo brasileiro quem conseguiu alugar casas para o grupo de brasileiros próximo a fronteira com o Egito e quem vem garantindo a entrega de suprimentos a essas pessoas. Lula, inclusive, chegou a conversar com os brasileiros retidos em Gaza e seus familiares via videoconferência. 

Em nota divulgada nesta quinta-feira (9), a Embaixada de Israel no Brasil informou que Jair Bolsonaro sequer foi convidado para a reunião do embaixador - indicando, portanto, que o ex-presidente não teve influência no processo de retirar os brasileiros de Gaza. O comunicado diz, ainda, que "o governo israelense jamais criou obstáculos ou preteriu a saída dos brasileiros de Gaza.

"Brasil e Israel têm laços fortes e fraternos desde a fundação do Estado de Israel e nosso esforço é para fortalecer cada vez mais essa amizade", afirma a representação diplomática. 

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por sua vez, informou em nota que a liberação dos brasileiros acontece depois de todo um trabalho de diálogo com o governo de Israel e que a autorização para que o grupo deixe Gaza vem após o quarto telefonema, nesta quinta-feira (9), entre o ministro Mauro Vieira e o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen

Segundo a pasta, o órgão israelense informou que os brasileiros só não foram libertados na última quarta-feira (8), conforme havia sido combinado, por "fechamentos inesperados na fronteira". 

"O Ministro Mauro Vieira manteve esta tarde contato telefônico com o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen. Foi o 4º contato entre eles para tratar da situação dos brasileiros retidos em Gaza. Cohen afirmou não ter sido possível cumprir a garantia dada por ele de que os brasileiros sairiam ontem, 8/11, por fechamentos inesperados na fronteira. Assegurou a Vieira que brasileiros e familiares estarão na lista de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira amanhã", diz o comunicado. 

O perfil oficial da presidência da República na rede X (antigo Twitter) também se manifestou sobre a repatriação. 

"A aeronave presidencial VC-2, que seguiu para o Egito em 30/10 com 1,5 toneladas de alimentos para a população na Faixa de Gaza, segue aguardando os brasileiros que se encontram em Gaza para serem repatriados. A diplomacia brasileira segue trabalhando dia e noite para garantir o resgate dos brasileiros na região"

A expectativa é os brasileiros deixem Gaza nesta sexta-feira (10) e embarquem para o Brasil a partir do Egito, com expectativa de chegada no sábado (11). Lula deve receber o grupo no aeroporto de Brasília