O chefe da assessoria especial da presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, subiu o tom contra o governo de Israel e usou pela primeira vez, como representante do governo brasileiro, a palavra "genocídio" para se referir às ações militares israelenses contra palestinos na Faixa de Gaza.
A declaração foi dada durante a Conferência Humanitária Internacional pela População de Gaza, organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris. O evento reuniu representantes de 40 países para discutir ações humanitárias na região em que já morreram cerca de 10 mil palestinos, sendo quase a metade deste número composta por mulheres e crianças.
Em seu discurso, o ex-chanceler brasileiro voltou a criticar o ataque do Hamas contra israelenses no dia 7 de outubro, mas condenou a reação do governo de Israel, que vem sistematicamente bombardeando territórios palestinos e violando convenções internacionais de direitos humanos.
"Eu reitero a condenação do Brasil dos ataques terroristas contra os israelenses e a tomada de reféns. No entanto, atos bárbaros como esses não justificam o uso indiscriminado da força contra civis (...) A morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à mente".
Amorim reforçou os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um cessar-fogo na Faixa de Gaza com a criação de corredores humanitários e mencionou, ainda, a insistência de Israel em manter retidos o grupo de 34 brasileiros que estão na região em meio aos ataques. As últimas informações dão conta de que esses brasileiros serão autorizados a deixar Gaza nesta sexta-feira (10).
"Um cessar-fogo humanitário é essencial. Passagens seguras e desimpedidas para a entrada de ajuda humanitária em benefício de hospitais, escolas e creches precisam ser respeitadas. A passagem de feridos deve ser garantida. É altamente perturbador que quase 100 funcionários das Nações Unidas tenham perdido suas vidas em Gaza", pontuou o representante do governo brasileiro.
"Enquanto faço este discurso, continuamos aguardando ansiosos a saída dos brasileiros de Gaza", ressaltou ainda.
Confira abaixo a íntegra do discurso de Celso Amorim na conferência
Gostaria de agradecer ao Presidente Macron por convocar esta reunião.
Nas palavras do Presidente Lula, " inocentes não podem pagar pela insanidade da guerra ".
Enquanto faço este discurso, continuamos aguardando ansiosos a saída dos brasileiros de Gaza.
A ação internacional em favor da população civil de Gaza é urgente.
O Brasil está contribuindo nas áreas de segurança alimentar e saneamento de água em Gaza.
Tendo fornecido à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) um total de US$ 20 milhões entre 2006 e 2016, estamos determinados a retomar nosso compromisso com a agência.
Uma contribuição financeira simbólica à UNRWA está sendo feita imediatamente. Uma contribuição mais substancial está sendo preparada e será anunciada em breve.
Um cessar-fogo humanitário é essencial.
Passagens seguras e desimpedidas para a entrada de ajuda humanitária em benefício de hospitais, escolas e creches devem ser respeitadas.
A saída dos feridos deve ser garantida.
É profundamente perturbador que quase cem membros da equipe da ONU tenham perdido a vida em Gaza.
Reitero a condenação do Brasil aos ataques terroristas contra o povo israelense e a tomada de reféns.
No entanto, tais atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada contra civis.
A morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à mente.
Isso não é apenas uma guerra entre o Hamas e Israel. Isso faz parte de um conflito maior, de 75 anos, cuja raiz é a ausência de um lar seguro para o povo palestino.
O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível.
Esta crise é provavelmente um dos desafios mais perigosos para a paz e segurança internacionais, com o maior potencial de se espalhar para um conflito global.
O Brasil considera que uma conferência diplomática onde uma solução política possa ser promovida, com a participação de um grande número de Estados, nos moldes da Conferência de Anápolis, é indispensável.
Muito obrigado.