O governo do Egito anunciou neste domingo (5) que não há nenhuma lista para liberação de estrangeiros pela fronteira de Rafah, no sul de Gaza. A informação frustrou o grupo de 34 brasileiros-palestinos que aguardam a liberação para voltar ao Brasil.
"Nenhuma lista hoje", afirmou na madrugada Alessandro Candeas, embaixador do Brasil à Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia.
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O Brasil tem 34 pessoas inscritas na lista: 24 delas brasileiras, 7 palestinas em processo de imigração e 3, parentes próximos desses árabes.
A divulgação da lista tem sido feita pelos egípcios, mas os nomes das pessoas a serem liberadas passam pelo crivo do governo sionista de Israel.
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Neste sábado (4), após a liberação de mais 599 estrangeiros na quarta lista, que não contemplou novamente os brasileiros, aumentaram as especulações sobre possível retaliação ao governo Lula, que tem condenado igualmente as ações de Hamas e Israel e propôs um resolução para pausa humanitária no Conselho de Segurança da ONU.
Em nota também neste sábado, a Embaixada de Israel no Brasil culpou o Hamas pelo "atraso" na saída de estrangeiros da região do conflito, incluindo os brasileiros.
"O Hamas está atrasando a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e os utiliza de maneira desumana para se apresentarem como vítimas. O Estado de Israel está fazendo absolutamente tudo que pode e que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rapidamente possível", informou a embaixada em nota.
Até agora, cerca de 2.700 estrangeiros, de um total de 7.500, cruzaram a fronteira.
Na sexta-feira (3), após a divulgação da terceira lista, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman (PT-PR), afirmou que ao não explicar quais seriam os motivos para proibir que os brasileiros deixem Gaza, Israel discrimina o Brasil.
"Pela terceira vez o governo israelense negou a saída de cidadãos e cidadãs brasileiros ameaçados pelo massacre contra população civil na Faixa de Gaza. E não apresentou qualquer explicação para essa atitude que discrimina um país, o Brasil, que tem históricas relações com o Estado de Israel", escreveu a deputada, ressaltando que "iInfelizmente, o governo israelense sinaliza que estabeleceu uma hierarquia política para a liberação de civis, privilegiando alguns países em detrimento de outros".
Na quarta lista, divulgada neste sábado, a maioria dos nomes eram de cidadãos dos EUA - país que já foi contemplado nas outras listas. No total, foram liberados 386 estadunidenses, 112 do Reino Unido, 51 da França e 50 da Alemanha.
Embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine negou "razão política" para a escolha e diz que a "vez dos brasileiros de sair de Gaza vai chegar” na última quarta-feira (1º). Mas, não soube precisar quando o grupo deixará a região.
Retaliação
As especulações em torno de uma aparente retaliação diante da posição do governo brasileiro, que condena o ataque do Hamas, mas também faz críticas à reação desproporcional de Israel, além de ter apresentado uma resolução no Conselho de Segurança da ONU para uma pausa humanitária, cresce diante da interlocução mantida por Zonshine com a extrema-direita no país, incluindo membros do clã Bolsonaro.
Em reunião com simpatizantes do governo sionista na Câmara no dia 11 de outubro, quando Israel já promovia um ataque maciço contra palestinos em Gaza, Zonshine pediu pressão ao Itamaraty sobre o que considera "brandas declarações" do Ministério de Relações Exteriores em relação ao Hamas.
O embaixador sionista ainda pediu aos parlamentares que adotem decisões para declarar o Hamas um grupo terrorista - rótulo que é rechaçado pela ONU e pelo governo brasileiro, que segue a orientação do organismo multilateral.
"O Hamas é movido pelo racismo genocida. Seu objetivo é assassinar judeus, destruir Israel e substituí-lo por um regime brutal de supremacia religiosa", diz o documento entregue pela embaixada aos parlamentares brasileiros, a maioria bolsonarista.
A animosidade cresceu após o PT divulgar uma resolução que diz que “os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel” e adverte que a ação do governo israelense configura “um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra”, como o corte de água potável, energia, alimentos e remédios, além de bombardeios contra a população civil.
Em nota, o embaixador de Israel afirmou ser “muito lamentável o PT, um partido que defende os direitos humanos" comparar a atuação do país com a do Hamas.
"Qualquer pessoa que pense que o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas é uma posição política, ou que se trata apenas de uma luta política legítima, possui uma extrema falta de compreensão da atual situação”, afirmou a representação de Israel no dia 17 de outubro.
Uma semana depois, no dia 25, Zonshine voltou a se reunir com deputados bolsonaristas na Câmara. "O povo do Brasil expressou seu apoio à nossa luta contra o mal que o Hamas, o Hezbolah e o Irã estão trazendo ao nosso mundo", escreveu a embaixada no X, antigo Twitter.
Participaram da reunião Carla Zambelli (PL-SP), Marcel van Hatten (Novo-RS), Marco Feliciano (PL-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP), Delegado Éder Mauro (PL-PA), Abilio Brunini (PL-MT), Alberto Fraga (PL-DF).