Nesta quinta-feira (23), o jornalista Breno Altman, editor-chefe do site Opera Mundi, concedeu uma entrevista ao programa Fórum Café.
Esta foi a primeira entrevista de Altman depois da emissão do comunicado da Confederação Israelita Brasileira (CONIB) que celebrava a censura do jornalista.
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O jornalista judeu e de esquerda é um ávido crítico do sionismo e tem criado conteúdo que denuncia de forma firme os crimes que Israel comete desde 7 de outubro em Gaza e na Cisjordânia.
A CONIB entrou com uma liminar na Justiça para a retirada de postagens e conteúdos supostamente antissemitas feitos por Altman.
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O pedido da entidade foi acatado pelo juiz Paulo Bernardi Baccarat, da 16ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
O problema é que Altman não é antissemita. Ele é apenas um judeu antissionista, como outros milhares de judeus ao redor do mundo.
Uma pesquisa da Pew Research de 2021 mostrava que mais de 42% dos judeus nos EUA não sentiam conexão nenhuma com Israel e que mais de 55% não acreditavam que a identidade judaica está ligada ao apoio a Israel.
Mas isso não importa para a CONIB. Segundo Altman relatou à Fórum, ele ainda não recebeu citação ou notificação judicial sobre a liminar conquistada pela organização sionista e concedida pelo
"Mais uma vez esse comportamento desmascara como funciona o sionismo. A sua associação com o neofascismo não é gratuita. Eles partilham os mesmos valores anti-democráticos. Está chegando agora no Brasil, uma onda que a gente já vê na Europa nos EUA e em Israel: a tentativa de calar todos aqueles ou aquelas que criticam o sionismo ou que criticam o estado de Israel, recorrendo a uma falácia", afirma.
Breno, que vem de uma longa tradição de judeus de esquerda, reiterou que não se sente intimidado pela ação. "Os judeus comunistas, tradição da qual eu venho, combatem o sionismo desde o início desde o século 20", reforçou.
Confira a entrevista de Breno ao Fórum Café desta quinta-feira:
A CONIB afirma que está "liderando o combate ao antissemitismo no Brasil, que explodiu após o início do conflito no Oriente Médio, a CONIB vêm adotando medidas judiciais contra pessoas físicas e jurídicas que, violando as leis do país, espalham conteúdo antissemita e discurso de ódio. A liberdade de expressão é um direito assegurado no Brasil. Mas difundir discurso de ódio é crime".
A postagem da organização comunicando a ação contra Altman foi excluída das redes sociais, mas segue no site da entidade.
Altman também publicou uma nota nas redes:
"Soube pela imprensa que a CONIB (Confederação Israelita do Brasil) teria obtido medida liminar determinando a retirada de algumas das minhas postagens em redes sociais, sob o risco ser multado.
A alegação dessa agência do Estado sionista é que meus textos seriam “racistas”, por sua suposta natureza antissemita. De forma cautelar, sem apreciação de mérito, um juiz paulista teria acatado parcialmente as demandas apresentadas.
O comportamento dessa entidade é previsível. Sua história é repleta de manobras e artimanhas para defender os crimes praticados pelo regime que representa. Também são notórios seus vínculos com a extrema direita brasileira, com a qual partilha os piores valores antidemocráticos.
A CONIB, ao buscar me censurar, volta-se contra a liberdade de expressão e de imprensa, revelando as entranhas do autoritarismo típico da doutrina que professa. O sionismo, uma das mais brutais correntes chauvinistas de nosso tempo, persegue implacavelmente quem denuncia as práticas genocidas e de lesa-humanidade cometidas por Israel, tentando condenar seus críticos ao silêncio e à invisibilidade.
Para disfarçar suas intenções, os dirigentes dessa organização recorrem a uma mentira surrada, a da equivalência entre antissionismo e antissemitismo.
Antissemitismo é o ódio contra os judeus, que encontrou seu apogeu com o Holocausto, no qual morreram dezenas de meus familiares, entre milhões assassinados pela bestialidade nazista, esmagada pelo Exército Vermelho e a luta dos povos em 1945.
Antissionismo é a repulsa contra uma ideologia racista e colonial que envergonha a tradição humanista do judaísmo, manchando-a com o sangue das crianças executadas na Faixa de Gaza. São muitos os judeus antissionistas, como é o meu caso, comprometidos em combater o regime de apartheid construído pela liderança israelense, assim reconhecido por organizações de direitos humanos e pela resolução 3379 da Assembleia Geral das Nações Unidas, vigente de 1975 a 1991, que identificava o sionismo com forma de discriminação racial.
Tenho orgulho de pertencer à militância contra o sionismo, ocupando a mesma trincheira escolhida por meus ancestrais há três gerações. Ameaças e arroubos ditatoriais da CONIB apenas reforçam a minha convicção sobre o papel que devo continuar a cumprir, ao lado de muitas outras pessoas, companheiros e coletivos.
Acusar-me de antissemita é apenas um discurso sórdido e falso, que não consegue ocultar a aliança entre o sionismo e os neofascistas da atualidade (como o primeiro-ministro de Israel, o ex-presidente do Brasil e o recém-eleito presidente da Argentina).
Tomarei as medidas judiciais cabíveis. E multiplicarei todos os esforços, em todos os espaços e momentos, para ajudar a desmascarar o regime sionista e ampliar o trabalho de solidariedade com o heroico povo palestino"