Após o ataque do Hamas a Israel no último sábado (7), o presidente Lula foi à público condenar a ofensiva e classificou as ações como “ataques terroristas”, assim como os Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Austrália, alguns dos países que consideram o Hamas um grupo terrorista.
O Brasil, porém, não considera oficialmente essa organização política e militar palestina um grupo terrorista. O país costuma seguir a classificação da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre esses grupos, assim como Noruega e Suíça, por exemplo.
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Junto a esses países, o Brasil adota uma postura de neutralidade, o que contribui para que o país, geralmente, exerça o papel de mediador de conflitos. Na década de 1940, a diplomacia brasileira foi crucial para a criação do Estado de Israel, pois foi o país que presidiu a sessão da ONU que reconheceu a partilha da antiga Palestina britânica.
Por isso, hoje, o Brasil, que preside o Conselho de Segurança da ONU durante o mês de outubro, também é visto como um possível mediador entre na guerra entre Ucrânia e Rússia.
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O professor de Relações Internacionais (PUC-SP) Reginaldo Nasser explicou, em entrevista à Fórum, o motivo da classificação do Hamas como organização terrorista ser "completamente inadequada".
Veja só. Os atores políticos podem mudar ao longo da história e podem assumir várias faces. O Hamas, no seu início, fez várias ações terroristas. Isso é inegável. Explodiu cafés, explodiu restaurantes e tudo. Já há um tempo, no entanto, o Hamas se configurou como entidade política. Tanto é que ele concorreu às eleições na Palestina e ganhou a eleição em Gaza com observador internacional. Quando um ator político que está no poder ganha a eleição e lança míssil a um outro país, você pode condenar a ação, você pode discordar, etc. Mas não é terrorismo — que é o que vários Estados no mundo têm feito. Já há muito tempo o Hamas não faz uma ação terrorista", opinou Reginaldo Nasser.
Para ele, a ação de Hamas se classifica como uma "ação militar porque é uma resistência”.
"Qualquer coisa que o Hamas fizer, ele é classificado como terrorista. Não importa. Mas não é verdade. Como eu disse, o Hamas, inclusive, tem representação política no exterior. É completamente inapropriado [classificar o ataque como terrorismo]. Mas a gente sabe o objetivo disso. É que os Estados Unidos e Israel, ao fazerem isso, justificam suas ações militares e econômicas."
Posição do Brasil sobre a guerra Israel-Palestina
Seguindo a sua conduta neutra, a posição do Brasil em relação ao conflito Israel-Palestina, que se estende desde a expansão de Israel sobre território palestino, é de que seja possível a existência dos dois Estados, em convivência harmônica.
Em nota publicada nesta segunda-feira (9) sobre a reunião do Conselho de Segurança da ONU, o Ministério das Relações Exteriores reforçou essa postura. “O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.”
Relações Brasil-Israel
Por seguir as classificações de grupo terrorista segundo a ONU, a posição do Brasil não muda nem quando há alternância do poder Executivo.
As relações entre o país e Israel, porém, tiveram altos e baixos nas últimas décadas. Durante a Ditadura Militar, o Brasil chegou a votar a favor de uma resolução da ONU para equiparar o sionismo ao racismo. Já durante o governo Dilma, o país adotou uma postura crítica em relação aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, o que causou atritos entre os dois. Durante o governo Bolsonaro, os países voltaram a estreitar relações devido à afinidade do ex-presidente com a extrema-direita de Israel. Isso, por outro lado, fragilizou a postura do Brasil como mediador do conflito ao se afastar dos palestinos.
Agora, com Lula, o Brasil reforça sua postura de defensor de dois Estados. “Conclamo a comunidade internacional a trabalhar para que se retomem imediatamente negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados”, diz a nota do presidente.