Um centro educacional popular nomeado em homenagem à Marielle Franco na Argentina foi vandalizado com frases de apoio à ditadura ocorrida no país entre as décadas de 1970 e 1980. O crime aconteceu poucas horas antes do candidato de extrema-direita à presidência, Javier Milei, negar a existência de 30 mil desaparecidos durante o regime ditatorial.
No último domingo (1), os coordenadores do Colégio Popular Marielle Franco encontraram o local vandalizado. Na fachada e na calçada do lugar, foi pichada a frase “volve Videla” (volta Videla), em referência ao ditador Jorge Rafael Videla, um dos líderes do golpe acontecido no país em 1976, ficando no poder até 1981, conhecido como o período mais sombrio do regime militar argentino.
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Murais da vice-presidente Cristina Kirchner e da ex-primeira dama Eva Perón também foram vandalizados, cobertos com tinta preta. As palavras de ódio “ladra” e “puta” estavam escritas ao lado das figuras.
"Nos 40 anos da recuperação da democracia, repudiamos esses atos que nos violentam, educadores e estudantes, em nosso espaço de educação popular, onde nos encontramos todos os dias da semana para que jovens e adultos concluam seus estudos secundários ou participem da refeição comunitária", publicou a instituição.
O centro foi criado em 2018, mesmo ano em que a vereadora Marielle Franco, que conclui seus estudos em um curso comunitário com esse, foi assassinada.
Influência de Javier Milei
No mesmo domingo (1), o político Javier Milei fez declarações que geraram revolta no primeiro debate entre os presidenciáveis argentinos. O extremista negou a existência de 30 mil desaparecidos na ditadura, como estimam organizações de direitos humanos, afirmando que o número correto é de 8.753 pessoas. “Estamos absolutamente contra uma visão torta da história”, declarou.
Milei minimizou mais uma vez os horrores da ditadura, afirmando que "durante os anos 1970 houve uma guerra e nessa guerra as forças do Estado cometeram excessos".
As falas geraram revolta e foram rebatidas pela Secretaria de Direitos Humanos da Argentina, órgão do governo, que afirmou “preocupação” diantes das declarações que “negam e banalizam o terrorismo de Estado cometido durante a última ditadura militar”.
A Secretaria explicou ainda que “não se conhece o número de desaparecidos e vítimas do terrorismo de Estado pelo seu caráter ilegal e clandestino” e afirma que “o número exato é e sempre será indeterminado, está em construção e cresce permanentemente”.
O Colégio Popular Marielle Franco também repudiou as falas do candidato. “Além dos ditos aberrantes que o candidato negacionista, Javier Milei, reproduziu no debate, esta noite encontramos este escracho brutal no nosso Colégio Popular”, afirmou, completando que “na Argentina não há lugar para o negacionismo”.