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Netanyahu isola Gaza e acusa Irã de mover "guerra contra o mundo"

Agência do Irã diz que soldados dos EUA estão envolvidos na ofensiva

Protesto.Em Tel Aviv, parentes e amigos dos reféns pedem cessar-fogo e negociação para soltar os prisioneirosCréditos: Reprodução da TV
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Na primeira entrevista coletiva desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o Irã está em guerra contra o planeta, "a Civilização Ocidental".

É um bordão muito comum entre um punhado de intelectuais conservadores do Ocidente, que preveem um choque inevitável com o islã.

Quando George W. Bush presidia os EUA, denunciou um eixo do mal contra o qual moveria a Guerra ao Terror, composto por Iraque, Irã e Coreia do Norte.

A desastrada ocupação do Iraque por Washington, sob a falsa premissa de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, fortaleceu o Irã e gerou o Estado Islâmico.

Apesar de o Irã xiita ter liderado o combate contra o Estado Islâmico sunita, que chama de Daesh, no Iraque, Israel agora associa o Irã ao Hamas e o Hamas ao EI.

Netanyahu disse que 90% do financiamento do Hamas é dado pelo Irã e que ambos foram parceiros nos ataques de 7 de outubro.

Teerã nega, mas é o espantalho ideal a justificar a guerra "longa e difícil" prevista hoje por Netanyahu.

Pelo que foi dito na entrevista do "gabinete de guerra" de Israel, a ofensiva durará meses.

Ele disse que Israel conta com o apoio de líderes ocidentais, mas a França votou a favor e o Reino Unido e a Alemanha se abstiveram na votação da Assembleia Geral da ONU que teve 120 votos a favor, 45 abstenções e 14 contra.

Dentre outras coisas, a decisão:

Apela a uma trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada que conduza à cessação das hostilidades; apela também à rescisão da ordem por parte de Israel, a força de ocupação, para que civis palestinos e funcionários das Nações Unidas, bem como de ajuda humanitária e médica, se retirem de todas as áreas da Faixa de Gaza ao norte de Wadi Gaza; recorda e reitera que os civis são protegidos pela legislação internacional de direito humanitário e devem receber assistência humanitária onde quer que estejam

Irã e Tunísia se abstiveram por considerar que o texto não era suficientemente duro na condenação de Israel.

Manifestações contra a guerra estão aumentando, inclusive na Europa e nos Estados Unidos.

Grupos pacifistas de Israel e de judeus nos Estados Unidos também estão protestando (ver abaixo).

BLECAUTE TOTAL

Durante a entrevista, Netanyahu foi cobrado mais de uma vez sobre a responsabilidade pelo 7 de outubro, mas disse que esta é uma questão a ser tratada no futuro, depois da derrota do Hamas.

A agência de notícias Tasnim, ligada à Guarda Revolucionária do Irã, disse que os Estados Unidos estão diretamente envolvidos na invasão de Gaza:

Cerca de 5.000 militares dos EUA estão envolvidos na operação terrestre que os militares israelenses lançaram na noite de sexta-feira contra Gaza. O objetivo da invasão é dividir a Faixa de Gaza em duas ou três seções e cortar a ligação entre as forças de resistência antes de lançar a próxima fase da guerra

O Irã nega sua participação no ataque de 7 de outubro.

Teerã recentemente reatou relações diplomáticas com a Arábia Saudita e entrou na Organização de Cooperação de Xangai, que tem China e Rússia como principais patrocinadores.

O corte das comunicações entre Gaza e o mundo parece ser parte essencial da ofensiva de Israel, uma vez que quase elimina o fluxo de imagens chocantes de bebês e civis mortos que vinham inundando as redes sociais, muitas vezes de forma instantânea.

O anúncio de Elon Musk, de que providenciaria conexões de internet através do sistema Starlink "para organizações humanitárias com reconhecimento internacional" foi rebatida por Israel.

O ministro das Comunicações, Shlomo Khari, disse que vai usar todos os meios necessários para que isso não aconteça.

Telefones via satélite são o único meio de comunicação ainda disponível, mas Israel dispõe de monitoramento eletrônico para localizar os dispositivos e atacá-los com mísseis.

A Cruz Vermelha, os Médicos Sem Fronteiras e a UNICEF dizem que perderam contato com suas equipes em Gaza responsáveis por dar apoio humanitário à população civil.

7.703 palestinos já foram mortos desde que Israel iniciou o bombardeio de Gaza, depois que o Hamas matou 1.405 israelenses nos ataques de 7 de outubro, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde de Gaza e do governo em Tel Aviv.