As Forças de Defesa de Israel afastaram o comandante de uma unidade e abriram uma investigação sobre a tortura de três civis palestinos por colonos que servem ao Exército na vila de Wadi al-Seeq, na Cisjordânia ocupada.
A tortura durou horas e fez lembrar o episódio da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, quando agentes dos Estados Unidos submeteram presos iraquianos a vários tipos de humilhação.
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A vila onde aconteceu o episódio fica a 15 quilômetros de Ramallah, sede da Autoridade Palestina. A vila foi esvaziada depois de ataques de colonos israelenses a pastores palestinos.
Muhammad Mattar e Muhammad Khaled estavam se preparando para deixar o local quando foram cercados por um grupo de homens uniformizados.
Depois de serem retirados do automóvel, foram despidos, amarrados e torturados.
Os dois deram entrevista ao jornal israelense Haaretz, descrevendo o episódio, que aconteceu três dias depois de o Hamas atacar Israel e matar mais de mil civis.
De acordo com o testemunho, Mattar e Khaled foram espancados com um cano de metal e tiveram cigarros apagados no corpo.
Captores urinaram nos dois e em um terceiro morador da vila, que foi alvo de uma tentativa de sodomização.
Os dois não souberam dizer se os homens eram soldados do Exército, reservistas ou apenas usavam roupas militares.
Eles acusam os captores de plantar facas numa mochila para justificar a tortura.
Depois de algumas horas, ambos registraram a chegada de um veículo que suspeitam ser do Shin Bet, a agência de segurança de Israel.
Os três presos foram fotografados.
A foto foi publicada num post do Facebook intitulado "Um alerta de infiltração terrorista na fazenda Ben Fazi, perto de Kochav HaShahar. Nossas forças prenderam os terroristas".
O post foi posteriormente apagado.
Uma das vítimas diz que apelou aos captores:
Eu disse que era contra o Hamas e contra a Jihad Islâmica Palestina, mas isso não lhes interessava. Eles disseram que todos os árabes são uma merda e que deveríamos ser enviados para a Jordânia
A transferência da população palestina para a Jordânia é um sonho de setores da direita religiosa de Israel.
HILLTOP YOUTH
As vítimas suspeitam da participação no episódio de reservistas que servem ao Exército e fazem parte do movimento Juventude do Topo da Colina [Hilltop Youth].
São filhos de pais religiosos que organizam pequenas comunidades com o objetivo de acossar palestinos que vivem na zona rural.
Os jovens fazem uma leitura literal de textos religiosos para justificar o "olho por olho, dente por dente".
O grupo ganhou fama em 2015, quando atacou uma casa na vila de Duma e queimou vivos o casal Riham e Saad Dawabsha e um bebê de 18 meses de idade. Ahmed, filho do casal de 5 anos, sobreviveu com queimaduras graves.
Um escândalo estourou quando, em dezembro daquele ano, num casamento de um integrante do Hilltop Youth, os presentes celebraram com armas, fotos do bebê morto e cantos pregando a morte de palestinos.
O noivo e 12 convidados foram processados, mas pegaram penas leves ou ficaram livres.
O "Casamento do Ódio" teve grande repercussão.
Apesar de ter suas táticas condenadas pelas autoridades locais, o Hilltop Youth é a ponta-de-lança do movimento de colonização e tem grande apoio entre militantes de partidos religiosos.
Os jovens ocupam território palestino por conta própria, como forma de forçar o governo a formalizar novos assentamentos.
Eles escolhem o topo de colinas por causa da vantagem de monitorar os vizinhos palestinos.
Amiram Ben Uliel, condenado pelo triplo homicídio na vila de Duma, foi alvo de uma campanha de solidariedade que levantou mais de U$ 300 mil para colocá-lo em liberdade.
O governo de Benjamin Netanyahu, o mais extremista da História de Israel, é acusado por militantes israelenses dos direitos humanos de fazer vista grossa para as ações violentas de colonos.
Depois do ataque do Hamas, a situação se agravou. Na semana seguinte ao 7 de outubro, 75 palestinos foram mortos na Cisjordânia por colonos ou pelo Exército de Israel, ainda que o ataque do Hamas não tenha partido da região.
O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, um político de extrema-direita, foi excluído do gabinete de guerra mas anunciou a compra de 10 mil rifles de assalto para distribuir à população civil.
A população de Israel inclui cerca de 2 milhões de árabes, sem considerar os territórios palestinos ocupados.