ELEIÇÕES NO EQUADOR

Quem é Daniel Noboa, o bilionário que venceu as eleições presidenciais no Equador

Proprietário de empresas offshore, presidente-eleito será o mais jovem a assumir cargo. Liberal, Noboa é dono de duas empresas no Panamá, conhecido paraíso fiscal.

"Há 25 anos tudo começou" Daniel Noboa celebrou sua vitória relembrando a candidatura do pai.Créditos: Reprodução/Instagram
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O bilionário Daniel Noboa venceu as eleições presidenciais no Equador em segundo turno. O candidato da Ação Democrática Nacional (ADN), partido de centro-direita com orientação liberal, foi eleito com quase 91% das urnas apuradas no país na noite deste domingo (15). Noboa assumirá um mandato de um ano e meio, até maio de 2025.

Noboa recebeu mais de 5,1 milhões de votos e superou Luisa González, adversária eleitoral que concorreu pelo partido Revolução Cidadã (RC), corrente do ex-presidente Rafael Correa. O processo eleitoral foi marcado pela violência política às vésperas da eleição, com três tentativas de assassinato que culminaram na morte do candidato à Presidência Fernando Villavivencio.

Dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atualizados às 8h30 (horário de Brasília), apontam diferença de quatro pontos percentuais entre os presidenciáveis: Noboa lidera González por 52% a 48%. 

Quem é Daniel Noboa

Daniel Noboa é ex-deputado representante da província de Santa Helena, próxima de Guaiaquil, sua cidade-natal. No cargo, Noboa presidiu a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Produtivo e Projetos de Microempresas. Segundo dados de seu site oficial, sua gestão teria originado 19,2% das leis aprovadas pela Assembleia Nacional. 

Com 35 anos, Noboa será o mais jovem a ocupar a Presidência na história do Equador. A marca anterior era de Jaime Roldós Aguilera, presidente entre agosto de 1979 e maio de 1981, que assumiu o posto com 39 anos. Primeiro presidente após o fim da ditadura militar no país, Aguilera teve seu mandato interrompido por um acidente aéreo fatal.

Filho do ex-candidato presidencial e bilionário Álvaro Noboa Pontón, Daniel é empresário e membro da elite econômica do país – assim como é o atual presidente do Equador, Guilherme Lasso. Ele se graduou em Administração de Empresas pela Universidade de Nova Iorque (EUA) e possui três mestrados. 

Noboa seguiu os passos de seu pai e abriu sua primeira empresa aos 18 anos, voltada para a organização de eventos. Entre 2010 e 2018, compôs a Corporação Noboa, empresa de seu pai, onde ocupou os cargos de diretor de expedição e diretor comercial e de logística.

Em maio deste ano, Daniel declarou patrimônio acumulado de US$ 3 milhões (R$ 15 milhões), entre casas, empréstimos habitacionais e ações. Ele alega ter financiado quase R$ 1 milhão para sua campanha eleitoral.

O magnata é proprietário de duas empresas no Panamá, conhecido paraíso fiscal, segundo documentos investigados no Pandora Papers, um projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). A legislação do Equador proíbe candidatos à cargos públicos de manter bens ou capitais em paraísos fiscais.

As contas bancárias das empresas da família Noboa estariam ligadas à um banco controlado pelo atual presidente equatoriano, Guilherme Lasso, que teria cometido crimes de peculato e corrupção passiva. Em maio deste ano, diante da possibilidade de impeachment, Lasso acionou o mecanismo "morte cruzada", que permite a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições.

A surpresa do primeiro turno

Noboa não estava cotado para chegar ao segundo turno, conforme as pesquisas eleitorais de intenção de voto, que o colocavam com 4% de intenção de voto. Antes do assassinato de Fernando Villavivencio, ele não aparecia entre os cinco representantes com maior intenção de voto da Numma e Click Report, ambas qualificadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

No primeiro turno das eleições gerais, em 20 de agosto, o candidato da ADN garantiu cerca de 24% dos votos válidos frente aos 33% de Luisa González. No segundo turno, González lidera na província de Santa Helena, onde Noboa foi deputado.

Para analistas, Noboa ganhou destaque durante o debate presidencial de 13 de agosto. Ele teria conquistado votos de indecisos com falas sobre segurança pública – tema debatido com intensidade diante do assassinato de Villavivencio e os atentados – e geração de empregos, os pontos centrais de sua campanha. 

"Como há pouco tempo, mudanças radicais devem ser feitas muito rapidamente nessas duas áreas; gerar confiança internacional, gerar segurança interna, segurança cidadã, reduzir o índice de mortes violentas e dar tranquilidade à população", afirmou à imprensa após os resultados do primeiro turno.

Noboa se aprofundou nas propostas acerca da segurança pública. Defendeu a promoção de capacitações e recursos para prevenção de crimes cibernéticos; medidas reguladoras de transparência para proteger a privacidade dos dados pessoais;  e aceleramento de processos penais para enfrentar a crise carcerária do país.