Após um violento processo eleitoral que vitimou um dos presidenciáveis no último mês de agosto, o Equador finalmente elegeu o seu novo presidente neste domingo (15). Será o bilionário Daniel Noboa, da Ação Democrática Nacional, um partido de centro-direita com orientação liberal.
Nesta noite, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que 93% das urnas já estavam apuradas. Nesse momento, Novoa marcava 52,3% dos votos válidos contra 47,7% de Luisa González, a candidata progressista do Revolução Cidadã, partido do ex-presidente Rafael Correa.
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De acordo com o órgão eleitoral, já não seria mais possível uma virada e Novoa foi declarado o vencedor do pleito. Imediatamente, González foi a público reconhecer a derrota e parabenizar o novo presidente.
A principal expectativa dos equatorianos é que o novo governo, que durará apenas um ano e meio, comece o trabalho de recuperação do país. Nos últimos anos, durante o mandato do banqueiro Guillermo Lasso, o Equador viveu forte crise econômica, revoltas populares e viu o crescimento desordenado dos carteis de narcotraficantes que fizeram os índices de violência urbana dispararem.
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A situação chegou às próprias eleições nacionais, quando em 9 de março o candidato à presidência Fernando Villavicencio foi assassinado a tiros por um desses grupos. Nos dias subsequentes, novos atentados semelhantes vitimaram outras figuras ligadas à política.
Quem é Daniel Noboa?
Filho do ex-candidato à Presidência da República e multimilionário Álvaro Noboa Pontón, Daniel Noboa é ex-deputado representante da província de Santa Helena, próxima de Guaiaquil, sua cidade-natal. No cargo, Noboa presidiu a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Produtivo e Projetos de Microempresas. Segundo dados de seu site oficial, sua gestão teria originado 19,2% das leis aprovadas pela Assembleia Nacional.
O candidato do Ecuatoriano Unido (EC) tem 35 anos, é empresário e membro da elite econômica do país – assim como é o atual presidente do Equador, Guilherme Lasso. Ele se graduou em Administração de Empresas pela Universidade de Nova Iorque (EUA) e possui três mestrados.
Noboa seguiu os passos de seu pai e abriu sua primeira empresa aos 18 anos, voltada para a organização de eventos. Entre 2010 e 2018, compôs a Corporação Noboa, empresa de seu pai, onde ocupou os cargos de diretor de expedição e diretor comercial e de logística. O magnata também possui empresas em paraísos fiscais, o que é proibido no país.
Não estava cotado para chegar ao segundo turno, conforme as primeiras pesquisas eleitorais de intenção de voto. Antes do assassinato de Fernando Villavivencio, ele sequer aparecia entre os cinco representantes com maior intenção de voto da Numma e Click Report, ambas qualificadas pelo CNE, órgão equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para analistas, Noboa ganhou destaque durante o debate presidencial de 13 de agosto. Ele teria conquistado votos de indecisos com falas sobre segurança pública – tema debatido com intensidade diante do assassinato de Villavivencio e os atentados – e geração de empregos, os pontos centrais de sua campanha.
Momento incomum
Geralmente os mandatos presidenciais no Equador duram quatro anos, assim como no Brasil. No entanto, as eleições deste ano ocorrem em um momento incomum. González e Noboa disputaram um mandato mais curto, que durará apenas um ano e meio.
Isso ocorre porque o pleito foi convocado por antecipação pelo atual presidente, o direitista Guillermo Lasso, para evitar um processo de impeachment. O banqueiro tem uma das piores avaliações da história e precisou decretar, no último mês de maio, a chamada “morte cruzada” – um dispositivo previsto na Constituição equatoriana que justamente permite antecipar o fim de um governo desastroso.
Durante seu mandato o Equador viveu uma terrível crise econômica, com forte desabastecimento de itens básicos como alimentos e combustível. A situação desdobrou a uma enorme revolta popular em 2022, em que povos indígenas marcharam sobre a capital Quito e foram brutalmente reprimidos.
Além disso, o país que até o último período era considerado seguro em suas principais cidades, passou a conviver com intensa violência urbana derivada da escalada da atuação de carteis de narcotraficantes. Um desses grupos, o Los Lobos, assumiu o atentado contra Fernando Villavicencio, o candidato assassinado em plena campanha eleitoral.
Violência política
O político Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça no final da tarde de 9 de agosto. Ele saía de uma reunião política com seus correligionários na capital Quito e entrava em um carro quando foi atingido pelos disparos.
Villavicencio, que era filiado ao Movimento Construye, chegou a ser resgatado para receber atendimento médico, mas sem sinais vitais ao dar entrada na unidade de saúde. Correligionários do político relataram que ao menos 7 pessoas ficaram feridas no ataque. Ele tinha 59 anos e, na última pesquisa de intenções de voto divulgada antes do atentado, apareceu na 5ª posição para o pleito presidencial.
O ataque contra Villavicencio e a morte do candidato foram confirmados por sua assessoria de imprensa e também pelo atual presidente do Equador, Guilherme Lasso que, no dia seguinte decretou estado de exceção por 60 dias.
"As Forças Armadas a partir deste momento se mobilizam em todo o território nacional para garantir a segurança dos cidadãos, a tranquilidade do país e as eleições livres e democráticas de 20 de agosto", disse o presidente equatoriano em vídeo à nação.
No dia seguinte (10) foi a vez de Estefany Puente, candidata à Assembleia Nacional, ser vítima de uma tentativa de assassinato, também por arma de fogo. O ataque ocorreu enquanto Estefany Puente estava presente no El Club de Leones, uma organização de serviços sociais localizada na cidade de Quevedo, na província de Los Ríos. A candidata, que é membro da Alianza Claro Que Se Puede, estava em seu veículo acompanhada pelo pai e um funcionário quando foi surpreendida por dois homens desconhecidos.
Dias depois, em 14 de agosto, foi a vez de Pedro Briones, político progressista ligado a Rafael Correa, ser morto. A informação foi dada em primeira mão por Paola Cabezes, candidata a deputada e ex-governadora do departamento de Esmeraldas, onde Briones também vivia e exercia sua atividade política.