Desde que o mundo ficou estarrecido com a tentativa de assassinato da vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, na última semana, protagonizado por Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos radicado naquele país desde a infância, que possivelmente por imperícia não colocou uma bala na câmara da arma ao disparar, o que fez seu intento criminoso falhar, algumas certezas foram aparecendo.
Primeiro foram as convicções ideológicas de extrema-direita do autor, depois foi a sorte da ex-mandatária ao se livrar de um tiro à queima-roupa no rosto e, por fim, a participação da namorada de Montiel, a jovem de 23 anos chamada Brenda Elizabeth Uliarte, que estranhamente havia se identificado à imprensa como Ambar. De fato, ela estava no local do intento, diferentemente do que havia dito, que não encontrava o companheiro por dias, o que fez com que a Justiça decretasse sua prisão.
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Agora, a versão da jovem sem família, que moraria com o namorado extremista, estudante universitária e vendedora de algodão-doce vem abaixo. Quase nada do que se sabia sobre Brenda era verdade e as autoridades começam a investigar um protagonismo maior dela na tentativa de magnicídio, considerando que possivelmente possa ter organizado e planejado o atentado.
De acordo com as informações levantadas pelos investigadores e tornadas públicas pela imprensa argentina, Brenda jamais esteve na universidade, uma vez que sequer terminou o Ensino Médio. Ela também não era brigada e afastada de sua família, visto que os investigadores descobriram que, diferentemente do informado nos primeiros dias, sobre a jovem morar com Montiel, Brenda sempre viveu com o pai e outros familiares em San Martín, cidade na periferia da capital Buenos Aires.
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A investigada se apresentava formalmente com pelo menos quatro identidades diferentes: além da verdadeira, tinha perfis nas redes sociais e se identificou para veículos de imprensa antes do atentado, dando entrevistas recheadas de discurso xenofóbico e reacionário, como Ambar, Sasha e Lizz Manson. Embora aparecesse carregando um cano com algodão-doce, cuja venda seria seu ganha-pão, familiares revelaram que nunca souberam dessa atividade, já que Brenda trabalhava diariamente numa pequena venda de propriedade de seu pai, um homem de 43 anos que tomou sua guarda da mãe durante a infância da acusada porque ela sofria abusos sexuais por parte de um parceiro da então responsável legal pela menina.
Aliás, o pai de Brenda estaria internado desde o episódio do atentado contra Cristina Kirchner e familiares afirmaram à imprensa e às autoridades que seria por dois motivos: além de ver a filha, a quem chamaria de “meu bebê” e “minha princesinha”, envolvida numa trama de assassinato da vice-presidente da nação, descobriu também que ela produzia conteúdo pornográfico nas redes e mantinha canais para veiculação desse material no OnlyFans e no Xvídeos.
No LinkedIn, Brenda mantinha um perfil com sua identidade real e se dizia funcionário do setor de limpeza da petroleira Shell, atividade que jamais exerceu, de acordo com a família e com a multinacional. Um tio, em entrevista ao Clarín, disse que estava assustado com tantas mentiras, que parecia que sobrinha “estava fabulando” e vivendo vidas falsas.
Partindo deste ponto, os agentes da Polícia Federal Argentina (PFA) pretendem descobrir qual, de fato, foi o papel de Brenda no crime. Numa live, poucos minutos antes de ser detida na estação de trens de Palermo, no domingo (4) à noite, a companheira de Montiel reproduziu frases de Javier Milei, um deputado de extrema-direita que vem sendo acusado na sociedade local de incendiar o ambiente político no país.