Um homem que se identificou apenas pelo nome de Mario, por medo de que o assédio sobre si aumentasse, deu entrevista nesta sexta-feira (2) para vários veículos de imprensa da Argentina falando sobre o passado e a personalidade de Fernando Andrés Sabag Montiel, o brasileiro que tentou assassinar na noite de ontem (1°) a ex-presidente e atual vice-presidente do país vizinho, Cristina Kirchner. Ele chegou a apontar e apertar o gatilho a poucos centímetros do rosto da antiga mandatária, mas o mecanismo de disparo da arma emperrou. Mario é amigo do agressor há muitos anos e definiu assim o Montiel: "Um cara solitário, muito dependente da falecida mãe" e que inventava histórias "para ser notado".
“Ele sempre teve fama de mitômano (mentiroso compulsivo). Qualquer coisa que ele nos dissesse sempre precisava ser ouvido com ressalvas”, disso o amigo do criminoso, que contou conhecê-lo desde o início da adolescência, classificando Montiel como um sujeito “inseguro e influenciável”, que “sofreu muito bullying na juventude” e que tinha a mãe (falecida em 2017) como “a única figura estável” em sua vida, “lhe ajudando em tudo”. Para Mario, obviamente que a perda dela provocou mudanças, o que gerou “um Montiel antes e um depois” da morte de sua genitora.
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O entrevistado contou também aos repórteres que o amigo que tentou cometer o magnicídio era uma pessoa que, no geral, “passava despercebido”, exceto “quando bebia”, o que segundo ele fazia com que Montiel quisesse aparecer e ser notado, tornando-se inconveniente e conflituoso.
Certa vez, contou, mesmo sendo um jovem alvo de muita gozação por parte dos companheiros e constantemente desrespeitado, Montiel resolver tomar satisfação contra um “líder” da turma e o agrediu. A partir daquele dia, disse Mario, ele se tornaria mais respeitado.
“Uma noite o líder do nosso grupo de amigos estava zuando muito ele, ele se cansou, agarrou-o pelo colarinho e o deixou deitado no chão. É como se ele começasse a acreditar. Ele se apresentou como 'eu sou Tedi’ , eu bati no Ramiro'”, lembrou.
Questionado sobre possíveis influências e posicionamentos políticos do atirador, o homem afirmou que não teria como dizer algo a respeito, já que a maior parte da convivência foi durante uma fase muito tenra de suas vidas, mas lembrou que Montiel dizia frases racistas.
“Naquela época, éramos todos crianças, não se falava em questão política... Nunca se falava sobre isso... Ele (Montiel) falava muito 'esses negros', mas daí para fazer algo que eu tenha visto, não. Naquela época éramos todos uns adolescentes revoltados”, relatou Mario.
“A última vez que o vi foi há 10 meses. Eu estava em um ponto de ônibus indo ver minha mãe e encontrei com ele. Me disse que faltava uma certa quantia de dinheiro para ir a uma quebrada comprar uma arma. Na verdade, ele até me mostrou o dinheiro”, relatou.
Mario revelou que encarou a versão com certa desconfiança, disse “não saber se era verdade ou não”, já que Montiel tinha fama de mentiroso. Ele também teria o hábito de falar que vivia dando tiros por aí, uma outra informação que o amigo não teria como confirmar se era verdade.
“Ele foi à casa de um amigo que temos em comum daquela época... Segundo o que meu amigo me disse, para pedir-lhe uma arma emprestada para praticar tiro, mas não sei quanto tempo faz isso”, acrescentou o entrevistado.
A certa altura, Mario proferiu respostas com certa violência, o que desagradou os jornalistas que o entrevistavam. Ele disse que “lamentava que Montiel não tivesse ensaiado e treinado melhor” para cometer o frustrado atentado da noite de quinta-feira (2). Após ser repudiado pelos repórteres, o amigo do agressor pediu desculpas, admitiu que se excedeu e que aquilo teria acontecido pelo nível de pressão e stress que vem enfrentando nas últimas horas por conta do episódio, já que muita gente estava tentando entrar em contato com ele e o pressionando a falar.
Por fim, Mario disse que todos os elementos que formam a personalidade de Montiel, assim como os fatos de seu passado, podem explicar sua atitude violenta que quase terminou no assassinato de Cristina Kirchner.
“Há muitas coisas que acabam fechando agora (fazendo sentido). Ele sempre foi um pária e um pária dos grupos. Não sei se nesse nível (o grave atentado), mas era de se esperar (que fizesse algo). Quanto mais repressão, mais revolução. Ele não tinha mais nada a perder”, concluiu.