HERANÇA

Ex-colônias do Reino Unido querem reparação e remoção de Charles III como chefe de Estado

Políticos e pesquisadores da Jamaica, Santa Lúcia e Bahamas citam Barbados como exemplo e afirmam que é hora de deixar o “governo real” e iniciar um amplo movimento pela República e indenizações pelas consequências nefastas da escravidão

Ex-colônias do Reino Unido querem reparação e remoção de Charles III como chefe de Estado.Créditos: Reprodução/ redes sociais / Youtube
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A nomeação de Charles III como sucessor da Rainha Elizabeth II, que faleceu na última quinta-feira (8), aos 96 anos, desencadeou novos movimentos de organizações da sociedade civil e de políticos de ex-colônias no Caribe para que o monarca seja removido como chefe de Estado de seus países e que a Grã-Bretanha pague reparações por causa da escravidão. 

À Reuters, o primeiro-ministro da Jamaica declarou que o seu país lamentaria por Elizabeth II e o seu colega da Antígua e Barbuda determinou que as bandeiras ficassem a meio mastro até o dia de seu enterro. Porém, nos bastidores há uma discussão sobre o papel que um monarca distante deve desempenhar no século XXI. 

O incômodo das nações que já foram colônias inglesas com Charles é anterior a sua ascensão ao trono. No começo deste ano, líderes da Commonwealth expressaram desconforto durante cúpula em Kigali, em Ruanda, sobre a passagem da liderança do clube de 56 nações de Elizabeth para o agora novo rei do Reino Unido. 

Logo após a nomeação de Charles como liderança do clube de 56 nações, os príncipes de Gales William e Kate realizaram uma viagem pela Jamaica e Bahamas. Tal viagem foi marcada por cobranças e pedidos de pagamento como reparação e um pedido de desculpas pela escravidão. 

Niambi Hall-Campbell, pesquisadora que preside o Comitê Nacional de Reparações das Bahamas, disse à Reuters que "à medida que o papel da monarquia muda, esperamos que esta seja uma oportunidade para avançar nas discussões sobre reparações para nossa região". 

A pesquisadora também afirma que, a partir do discurso de Charles III em cerimônia que fez de Barbados uma República e de que reconhece a "atroz atrocidade da escravidão", que o monarca possa dar início ao processo de justiça reparatória. 

"Mais de dez milhões de africanos foram algemados e levados ao tráfico de escravos no Atlântico por nações europeias entre os séculos XV e XIX. Aqueles que sobreviveram à viagem brutal foram forçados a trabalhar em plantações no Caribe e nas Américas", lembra a Campbell. 

Rosalea Hamilton, defensora jamaicana de reparações, declarou que a fala de Charles na conferência de Kigali sobre a atrocidade da escravidão oferece "algum grau de esperança de que ele aprenderá com a história, entenderá o impacto doloroso que muitas nações sofreram até hoje". 

Porém, desde que foi alçado ao posto de novo monarca do Reino Unido, Charles III não falou sobre reparações com os países que foram colônias. 

No ano passado, o governo da Jamaica anunciou um plano para pedir indenização à Grã-Bretanha por transportar à força cerca de 600 mil africanos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar e bananas que criaram fortunas para os proprietários de escravos britânicos. 

"Quem assumir o cargo deve ser solicitado a permitir que a família real pague indenizações aos africanos. Todos nós devemos trabalhar para remover a família real como chefe de estado de nossas nações", disse David Denny, secretário-geral do Movimento Caribenho para a Paz e Integração, 

À exemplo de Barbados, a Jamaica deve, em breve, abandonar o governo real. Pesquisa feta em agosto revelou que 56% dos jamaicanos são a favor da remoção do monarca britânico como chefe de Estado. 

O ex-primeiro-ministro de Santa Lúcia, Allen Chastanet, e hoje líder da oposição, declarou à Reuters que apoia o movimento que leva o país em direção ao republicanismo.
 

 

 

Com informações da Reuters.