Quem poderia que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que durante seu mandato houve um plano da CIA para assassinar o jornalista Julian Assange, seria pego com a mão na massa pelo FBI na última segunda-feira (8) escondendo documentos sigilosos sobre a segurança nacional dos EUA dentro da sua mansão na Flórida? Pois foi exatamente o que aconteceu.
Nesta sexta-feira (12) a imprensa estadunidense anunciou que o FBI pode processar Trump por traição e espionagem contra seu próprio país, além de divulgar sem muitos a lista documentos roubados por Trump no apagar das luzes de seu mandato como presidente. Trump surrupiou até mesmo documentos sigilosos que listam o arsenal nuclear dos EUA. Provavelmente os que levam a sigla TS/SCI que, em inglês, significa ultra-secreto/sensível, um tipo de classificação para temas que podem representar danos graves à segurança do país.
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Segundo informações divulgadas na CNN Brasil, o FBI teria encontrado tudo o que procurava na mansão Mar-a-Lago, um resort de luxo com dezenas de quartos em Palm Beach, na Flórida, onde Trump fixou residência após deixar a Casa Branca. Entre as 20 caixas de documentos retiradas da mansão estariam 11 coleções de materiais sigilosos, além de registros do perdão presidencial de Trump a seu apoiador Roger Stone e informações sobre o presidente francês, Emmanuel Macron. Por se tratar de documentos sigilosos, o FBI não forneceu maiores detalhes. Trump agora pode ser enquadrado na Lei contra Espionagem, válida a partir de 1917.
O FBI e as demais agências e instituições de Estado envolvidas no caso não quiseram comentar a operação para os meios de comunicação. Limitaram-se a fornecer as informações e pedir sua divulgação.
Busca e apreensão na mansão de Trump
Na última segunda-feira (8) o FBI fez a operação de busca a apreensão na mansão. Os agentes teriam entrado na casa trajando ternos ao invés dos tradicionais coletes com a inscrição da corporação; às dez da manhã, ao invés do costumeiro horário das cinco e meia da matina para esse tipo de operação; e em um dia em que Trump não estava no local, pois visitava a sua Trump Tower em Nova Iorque. Tudo isso para evitar constrangimentos e exposições tanto do ex-presidente, como das investigações que correm em sigilo. As informações da imprensa local dão conta de que nem o atual presidente do país, Joe Biden, teria ciência do cumprimento do mandato.
Mas extremamente irritado com a situação, Trump não guardou silêncio e convocou horas depois uma coletiva de imprensa para comentar a entrada dos oficiais em sua mansão. Trump não quis explicar o porquê da operação em sua casa, reclamou que nenhum outro ex-presidente havia sido tratado daquela forma e que coopera com as investigações a respeito da invasão do capitólio de Washington, em 6 de janeiro do ano passado, por seus seguidores. Um assunto que ele fez questão de recordar naquele momento.
No final das contas, Trump acusa as investigações de serem “politizadas” por estarem ocorrendo meses antes das primárias das eleições legislativas do ano que vem, que ocorrem em 8 de novembro. The Donald estaria ensaiando sua "volta triunfal" à política. Acontece que foi ele mesmo quem tornou a operação pública e entregou seu próprio interesse político relacionado a elas.
"CPI" do Capitólio
As investigações sobre a invasão do capitólio em 6 de janeiro de 2021, que contam com a cooperação entre parlamentares e investigadores profissionais do Estado, confirmaram o desaparecimento de documentos do Arquivo Nacional ao fim da gestão Trump. Entre esses documentos haveria registros de telefonemas de Trump e de pessoas do seu círculo mais próximo relacionados com o fato investigado.
Trump teria sido obrigado, mediante processo judicial, a devolver 15 caixas de arquivos ao Arquivo Nacional após sua saída. As investigações se concentram em materiais subtraídos, por isso a operação de busca e apreensão. Trump, assim como sua cópia brasileira, o presidente Jair Bolsonaro, alega que houve fraudes nas eleições dos EUA, em especial as que o tiraram da Casa Branca.
A CPI do Capitólio, como apelidamos no Brasil, já prendeu Steve Bannon - guru de Trump ao estilo de Olavo de Carvalho com Bolsonaro no Brasil - e mira Eduardo Bolsonaro em suas investigações. Parlamentares ainda afirmam que Trump não queria que seus seguidores se retirassem no capitólio após 6 horas de invasão. Ele teria sido forçado a pedir a saída dos manifestantes.