O jornal britânico The Guardian publicou um contundente editorial na tarde desta quarta-feira (8) – madrugada de quinta-feira no horário de Brasília – sobre o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. No texto, o veículo faz fortes críticas ao governo brasileiro e, sobretudo, ao presidente Jair Bolsonaro (PL) que, segundo o jornal, “tem demonstrado pouco interesse em uma resposta adequada”.
O Guardian afirma que “o Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os defensores do meio ambiente e outros associados às comunidades indígenas”, e lembra que “os assassinatos do líder trabalhista e ambientalista Chico Mendes e da freira americana Dorothy Stang são particularmente notórios, mas houve muitos outros desde então. Os jornalistas também são vulneráveis”.
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O jornal lembra que Phillips é um colaborador de longa data do Guardian “que também escreveu para o Washington Post, New York Times e Financial Times, viajou extensivamente pela região amazônica para relatar a crise enfrentada pelas florestas tropicais do Brasil e suas comunidades indígenas e está trabalhando em um livro sobre conservação o ambiente”.
Resposta abaixo do esperado
Para o Guardian, “a resposta das autoridades brasileiras tem sido, na melhor das hipóteses, lenta e abaixo do esperado. Um helicóptero – essencial nas buscas em uma área tão vasta – não foi empregado até a manhã de terça-feira. Uma investigação criminal não foi aberta até a tarde daquele dia. Apenas um punhado de tropas parece estar envolvido na busca, em uma região com abundantes recursos militares”.
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“Esta resposta mínima é totalmente inadequada. A Human Rights Watch, o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e muitos outros órgãos têm pressionado desde o início por uma ação rápida e comprometida do governo brasileiro. É necessária uma operação completa de busca e resgate, com apoio real em nível nacional”.
O jornal afirma ainda que “infelizmente, o presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado pouco interesse em uma resposta adequada”. O texto atenta para o fato de que, “além do presidente demorar para tratar do assunto, ele parece culpar os desaparecidos: ‘sinceramente, duas pessoas em apenas um barco, naquele tipo de região, absolutamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável para ninguém. Qualquer coisa pode acontecer. Pode ter sido um acidente. Eles poderiam ter sido executados’, disse ele”.
Ao final, o Guardian lembra “que o desmatamento na Amazônia atingiu um nível recorde sob Bolsonaro, que enfraqueceu as proteções ambientais e os direitos à terra indígena desde que assumiu o cargo em 2019, mas também que ele pisou nos direitos humanos e desrespeitou o estado de direito. Gangues criminosas parecem cada vez mais encorajadas a infringir a lei, danificar a floresta tropical e praticar violência com uma sensação de impunidade”.
E faz um apelo:
“É altamente improvável que o governo mude de rumo sem pressão internacional. Isso deve primeiro ser levado em consideração para produzir uma resposta adequada a esse desaparecimento. John Kerry, o enviado climático dos EUA, disse que vai investigar o caso. O secretário de Relações Exteriores, David Lammy, já pediu ação. Liz Truss, a secretária de Relações Exteriores, deve pressionar o governo brasileiro a aumentar os esforços de busca, com urgência. Muito tempo já foi perdido. Nada mais deve ser desperdiçado”, encerra.
Leia o editorial na íntegra aqui.