Um fato no mínimo estranho chamou a atenção dos investigadores que tentam desvendar o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, na Amazônia.
O suspeito detido nesta quarta-feira (8), Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, passou a ser representado por dois advogados, que logo se apresentaram para defender o homem.
Porém, o que mais chamou a atenção é que ambos são procuradores de municípios do Amazonas. Ronaldo Caldas, em Atalaia do Norte, onde Pelado está preso, e Davi Barbosa de Oliveira, em Benjamim Constant, cidade vizinha.
Embora aja suspeição, a atividade não é ilegal. Procuradores municipais geralmente são autorizados a exercer a advocacia - exceto em cidades que peçam dedicação integral ao cargo. Além disso, o trabalho não pode ser feito contra a administração municipal por conflito de interesses.
De acordo com reportagem de Daniel Biasetto, enviado do Globo a Atalaia do Norte, existe interferência política para soltar Pelado.
O suspeito passaria por uma audiência de custódia nesta quarta-feira (8), mas a juíza, Jacinta Silva dos Santos, decidiu deixar para esta quinta (9), ainda sem horário definido.
Policiais militares que prenderam Pelado, na terça (7), declararam ao Globo que a lancha do suspeito foi vista perseguindo o barco de Bruno Pereira e Dom Phillips logo após eles deixaram a comunidade de São Rafael, em Atalaia do Norte. O suspeito foi preso e trazido para a cidade na própria lancha.
Testemunhas disseram aos policiais que a embarcação de Pelado, apreendida e trazida com ele até a cidade, passou em alta velocidade atrás do indigenista e do jornalista.
Ambos tinha deixado a comunidade São Rafael após uma visita, que estava agendada, para que o indigenista se reunisse com o com o líder comunitário apelidado de Churrasco, que é tio de Pelado.
Churrasco foi detido na segunda-feira (6) à noite para prestar esclarecimentos e liberado em seguida.
Integrantes da Univaja dizem que suspeito ameaçou Bruno Pereira
Conforme informações prestadas por integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Pelado seria o pescador que ironizou o fato de o indigenista andar armado e estar no Vale do Javari, onde prestava consultoria voluntária para os indígenas, e o ameaçou: “Quero saber se ele atira bem".
O relato teria sido feito a policiais que foram para o local, o que teria motivado a detenção de Pelado. O procurador da Univaja, Eliesio Morubo, afirmou que o grupo que testemunhou a ameaça deverá prestar depoimento mais detalhado.