A Associação de Imprensa Estrangeira da África divulgou, nesta terça-feira (1), uma nota oficial em que repudia a postura racista de jornalistas da mídia ocidental na cobertura da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Jornalistas de diversas emissoras, principalmente europeias, têm destilado preconceito ao falar sobre as vítimas ucranianas do conflito, dando tratamento distinto àquele que é empenhado aos refugiados e vítimas de guerras em outros lugares do mundo, principalmente em países pobres como na África ou no Oriente Médio.
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"A Associação de Imprensa Estrangeira da África está perturbada pelas opiniões infelizes que nossos colegas ocidentais continuam a expressar publicamente sobre a distinção que veem entre guerra e sofrimento na Ucrânia e aqueles que ocorreram em países pobres", diz um trecho da nota da entidade africana.
"As pessoas que não são brancas não são mais propensas e habituadas à violência e ao sofrimento. As pessoas que não são brancas não são menos civis ou incapazes de resolver conflitos. O jornalismo é uma ferramenta que pode quebrar o jugo do racismo", prossegue a associação.
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Preconceito na cobertura
Desde que a Rússia encampou os primeiros ataques contra a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, inúmeros exemplos de preconceito na cobertura da mídia ocidental com relação ao conflito, fazendo diferenciação com aqueles que acontecem em países pobres, vêm sendo registrados.
No dia 26 de fevereiro, em entrevista à BBC inglesa, por exemplo, o ex-procurador-geral adjunto da Ucrânia, David Sakvarelidze, disparou: “É muito emocionante para mim porque vejo europeus com cabelos loiros e olhos azuis sendo mortos todos os dias com mísseis de Putin, seus helicópteros e seus foguetes".
Um dia antes, no dia 25 de fevereiro, Charlie D’Agata, do canal estadunidense CBS News, também fez comentário preconceituoso. “Este não é um lugar, com todo o respeito, como o Iraque ou o Afeganistão, que tem visto conflitos violentos há décadas. Esta é uma cidade relativamente civilizada, relativamente europeia, cidade onde você não esperaria isso”, declarou.
A fala foi parecida com a de Daniel Hannan, jornalista britânico que, em artigo no The Telegraf, afirmou que os ucranianos "parecem tanto com a gente. Isso é o que faz ser tão chocante. A Ucrânia é um país europeu. Sua população assiste Netflix e tem contas no Instagram”.
No último domingo (27), o apresentador inglês da Al Jazeera, Peter Dobbie, foi na mesma linha ao falar dos refugiados ucranianos. Ele comentava imagens de aglomerações para entrar em um trem que partia para países de fronteira, como a Polônia e Romênia, quando disparou: “São pessoas prósperas, de classe média, não são refugiados que estão fugindo do Oriente Médio. Eles parecem com qualquer família europeia que mora ao lado de sua casa".