DIPLOMACIA

Mundo paralelo: Seguidores creem que Bolsonaro evitará guerra entre Rússia e Ucrânia

Apoiadores do presidente propagam informação de que o líder que sequer consegue comer farofa sem se sujar solucionará conflito. Especialistas dizem que brasileiro tem zero relevância nesse cenário

General russo e Vladimir Putin (NewsWeek) e Jair Bolsonaro cheio de farofa (Redes sociais).
Escrito en GLOBAL el

O mundo paralelo em que vive grande parte dos seguidores fanáticos do presidente extremista Jair Bolsonaro é cercado de maluquices e crenças obtusas, algumas inclusive risíveis, mas, ao que parece, a coisa passou um pouco do habitual dessa vez: Bolsonaro solucionará o impasse entre Rússia e Ucrânia, que assombra o mundo, em sua visita a Moscou, é o que dizem seus eleitores mais delirantes.

É, você não leu errado. Nas redes e grupos de WhatsApp de apoio ao líder radical de extrema direita uma verdadeira chuva de mensagens, imagens e até stickers (figurinhas) afirmam que a excursão inoportuna do ocupante do Palácio do Planalto ao Kremlin, num momento de tensão total para o planeta, culminará num acordo de paz entre a superpotência nuclear comandada por Vladimir Putin e a ex-república soviética que pretende se alinhar ao Ocidente e à União Europeia.

Veja alguns comentários e o teor de algumas imagens veiculadas nos grupos bolsonaristas:

“Se todos países entraram na conversa (OTAN/Rússia) por que Bolsonaro não pode? Continuam subestimando nossa soberania e a mídia cai de cabeça”, escreveu uma admiradora do presidente num grupo público do Facebook.

 

“Parabéns, presidente Bolsonaro. Só sua presença fez a Rússia recuar e ficar em paz com a Ucrânia”, diz uma imagem em que Bolsonaro aparece gargalhando postada no Twitter.

“Para terror dos esquerdistas, Bolsonaro embarca para Rússia e pode ser capaz de intermediar a paz mundial”, aposta ainda um outro meme propagado pelos bolsonaristas no WhatsApp.

Há também uma imagem de Jesus Cristo com a mão no ombro do presidente extremista dizendo a ele, como quem dá um conselho: “Vá e impeça a guerra, Jair”.

Apontada por praticamente todos os especialistas em Relações Internacionais e ex-membros da diplomacia brasileira como uma trapalhada exibicionista, a viagem oficial à Rússia em meio a um dos momentos mais delicados no planeta nas últimas décadas, para alguns, servirá apenas para mostrar como o Brasil se tornou pequeno perante a comunidade internacional. O homem que sequer consegue comer farofa sem se sujar até na bota não tem efetivamente nada o que fazer naquela grave crise.

O governo tresloucado de Jair Bolsonaro deixou o Brasil totalmente isolado no cenário internacional, não só por provocar confusões desnecessárias com aliados históricos e importantes parceiros comerciais, mas também pelo abandono da tradicional política multilateralista que marca o Itamaraty há muito tempo. Ir à Rússia tem soado como uma espécie de provocação ao presidente norte-americano Joe Biden, uma vez que Bolsonaro era um devoto bajulador de Donald Trump, e não ter desmarcado a viagem denotou uma vontade de aparecer para o mundo, como se o nanico Brasil bolsonarista tivesse alguma relevância em questões importantes atualmente.

Reginaldo Nasser, professor e pesquisador de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), disse em entrevista exclusiva à Fórum que a comitiva oficial deve passar despercebida pelo gigante continental.

"O Bolsonaro e a sua atuação na política internacional é praticamente nula, quando não negativa e desastrosa. Portanto eu acredito que isso não vai ter repercussão nenhuma, nem positiva nem negativa, ninguém vai olhar para o Brasil, que nesse caso é carta fora do baralho. Não vai ter grandes repercussões dessa viagem do presidente Bolsonaro e ainda vai acabar passando desapercebido", explicou o acadêmico.

Já o ex-embaixador brasileiro em Washington e Londres, Rubens Barbosa, falando à revista Veja, no começo de fevereiro, afirmou que esse tipo de aproximação, num momento delicado, pode sinalizar algo como um apoio e prejudicar os interesses da nação.

“O risco existe. Imagina que Bolsonaro está em Moscou, e a Rússia ataca a Ucrânia. A visita pode ser interpretada como apoio. Existe uma regra básica: sempre que possível, o país precisa manter equidistância das contendas externas para resguardar os próprios interesses”, opinou.