Stewart Rhodes E Kelly Meggs, dois dos golpistas que arquitetaram a invasão ao Capitólio, foram condenados por conspiração sediciosa na noite desta terça (29). O ato antidemocrático foi deflagrado no dia 6 de janeiro de 2021, por apoiadores de Donald Trump que questionavam o resultado das urnas que deu vitória ao Democrata Joe Biden. A data foi escolhida por se tratar do momento da certificação do novo chefe da nação, equivalente à diplomação no Brasil.
Líderes de um grupo chamado Oath Keepers, que em uma tradução literal seria "Guardiões do Juramento", os termos da condenação de Rhodes e Meggs são considerados emblemáticos. De acordo com o dicionário, sediciosa é sinônimo de amotinada, insurrecta, revoltosa. Mas no cenário político-institucional dos EUA o peso é bem maior. Acusados de promover movimento para impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden à força, a condenação por traição que pesa sobre os chefes da milícia trumpista só foi proferida por 12 vezes ao longo da história estadunidense. Esta condenação de conspiração sediciosa é para casos em que há tentativa de derrubar ou destruir pela força o governo dos EUA.
Te podría interesar
Julgamento
Durante cerca de dois meses de julgamento, a ação de Stewart Rhodes, Kelly Meggs e de outros três réus foi destrinchada. A retórica violenta da milícia foi elemento essencial para a organização e o planejamento do ataque em que um grupo de apoiadores de Trump conseguiu invadir o Congresso dos Estados Unidos e promover a ação golpista que provocou nove mortes - dentre as quais foram contados suicídios de policiais. “Não vamos passar por isso sem uma guerra civil. Prepare a mente, o corpo e o espírito”, conclamou Rhodes após o resultado eleitoral. Ele próprio não entrou no Capitólio, mas atuou no comando da ação. Provas como mensagens criptografadas, gravações e vídeos de vigilância também foram utilizados no julgamento para demonstrar como o líder dos Oath Keepers incitou a "rebelião armada", segundo seus próprios termos.
De acordo com informações do G1, Stewart Rhodes, que é fundador da milícia, tem 56 anos, é americano e advogado formado em Yale, que teve o registro profissional cassado. Kelly Meggs lidera o grupo na Flórida. Além dos réus já em julgamento, outras 700 pessoas foram acusadas até agora pelo ataque à sede do Congresso americano.
Te podría interesar
Impacto global
Para a especialista em política internacional Ana Prestes, a condenação desta terça tem um impacto importante, "não só na política norte-americana, mas no mundo, porque esses movimentos inspiram outras ações golpistas, inclusive aqui no Brasil, na América Latina e em outros países", disse a cientista política.
Rhodes enfrenta uma sentença máxima de 60 anos pelo conjunto de crimes, incluindo os 20 anos por conspiração sediciosa. A imprensa internacional estampa em suas manchetes que a condenação abre caminho para veredictos similares no futuro. Ao menos mais dois julgamentos já estão previstos, no próximo mês, contra cinco membros do Oath Keepers e líderes do Proud Boys, outro grupo trumpista.
Inimigos da Constituição
Prestes avalia que alguma condenação já era esperada, devido a uma cultura de judicialização existente no país, "tudo é judicializado ao extremo", explica Ana, afirmando que o episódio do Capitólio tende a tender por anos, incluindo ações de busca por reparação, uma vez que muitas pessoas foram atingidas e algumas perderam a vida. Mas ela chama atenção à classificação que os réus ganham: "aquilo que eles chamam de os grandes inimigos da Constituição", por terem atentado contra a própria democracia do país. "Não é uma condenação muito comum nos EUA. Então tem um impacto importante no que isso pode atuar na desmobilização desse tipo de movimento que se sustenta na negação das eleições", completa a especialista.
Ana Prestes avalia que a condenação pode ter impacto na disputa interna do partido Republicano, entre o ex-presidente Donald Trump e o governador da Flórida, De Santis, que disputam o lugar de candidato à presidência nas próximas eleições e acredita que uma consequência pode ser até mesmo reverter parte da simpatia popular em favor dos Democratas, em baixa neste momento, o que pode vir a garantir uma certa estabilidade até o final do mandato do Biden e para a sucessão presidencial.
Uma das principais consequências, entretanto, é o banho de água fria que a notícia pode jogar em movimentos similares ao redor do mundo. "A maioria desse pessoal dos Republicanos, dos trumpistas, do Make America Great Again (Maga), se sustentou na negação das eleições passadas, dizendo que tudo foi fraude", disse Ana Prestes. "E com base nisso eles justificam o armamento, justificam atos como foi esse do Capitólio. E eles têm muita influência em outros grupos, como no próprio bolsonarismo. Vamos lembrar que o Eduardo Bolsonaro estava na Casa Branca no dia 5 de janeiro de 2021, um dia antes de todos esses eventos. Então a minha impressão é de que tem um impacto geral", avaliou.