Um dos maiores jogadores de xadrez de todos os tempos, o ex-campeão mundial Boris Spassky faleceu nesta quinta-feira (27), em Moscou, aos 88 anos. A informação foi confirmada pela Federação Russa de Xadrez e anunciada por seu presidente Andrei Filatov, à agência de notícias estatal russa Tass.
"Uma grande personalidade se foi; gerações de enxadristas aprenderam e continuam aprendendo com suas partidas e seu trabalho. Uma grande perda para o país. Minhas condolências à família e aos amigos. Lembrança eterna", disse ele à agência.
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Spassky nasceu em São Petersburgo, na Rússia, que na época se chamava Leningrado, fazendo parte da União Soviética, em 30 de janeiro de 1937. Ele se tornou campeão mundial oficial de xadrez em 1969, depois de se tornar o mais jovem grande mestre da história até então, com 18 anos. No duelo pelo título, derrotou o também soviético Tigran Petrosian, nascido na Armênia.
O jogo do século
O enxadrista conquistou projeção mundial, indo além da modalidade na disputa do Campeonato Mundial de Xadrez de 1972, quando enfrentou outra lenda do esporte, o estadunidense Bobby Fischer, em Reykjavik, Islândia.
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A rivalidade entre Spassky e Fischer ganhou dimensões políticas ao representar o embate das duas superpotências que travavam a chamada Guerra Fria. Mais tarde, uma outra rivalidade, desta vez entre dois russo, Gary Kasparov e Anatoly Karpov, representaria outra metáfora, das mudanças que levariam à dissolução da União Soviética.
De1937, ano em que Spassky nasceu, até aquele ano de 1972, todos os campeões mundiais eram soviéticos. E enfrentou alguém de um país que não tinha tradição na modalidade. Fischer foi à disputa, uma série de 24 partidas, criticando os rivais da União Soviética e os acusando de aceitarem empates rápidos nos torneios, uma espécie de jogo de equipe informal que desfavorecia os adversários de outros países. Mas o estadunidense também falava mal de seu país, tornando-se uma das figuras mais polêmicas da época.
Ao fim da série, o enxadrista dos EUA venceu por 12,5 a 8,5. "Nem imaginam o quão aliviado fiquei quando Fischer me tirou o título. Libertei-me de um fardo muito pesado e passei a respirar livremente", lembrou Spassky, em uma entrevista concedida quase 40 anos depois.
VIrada e revanche
A derrota representou uma virada em sua vida. Ele se apaixonou por Marina Stcherbatcheff, funcionária da Embaixada Francesa e filha de imigrantes russos, e emigrou para a França em 1976, obtendo a cidadania francesa em 1978. Representou a França em três Olimpíadas de Xadrez.
Em 1992, disputou uma revanche não oficial com Fischer, na qual venceria quem atingisse dez triunfos primeiro. Spassky perdeu novamente ao conseguir cinco vitórias contra dez do adversário.
Depois de sua saúde ter piorado no início dos anos 2000, Spassky saiu de Paris e retornou a Moscou em outubro de 2012.