O ex-jogador e apresentador de televisão, Craque Neto, que se destacou nos últimos meses cobrando posicionamentos éticos no futebol brasileiro, sobretudo em casos de violência e estupro contra mulheres como os protagonizados por Robinho e Daniel Alves, agora é criticado justamente por não manter tais posicionamentos. Na última sexta-feira (21) ele usou o seu canal do YouTube para comentar a recente contratação do técnico Cuca pelo Corinthians, clube paulista onde é considerado ídolo.
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“O Corinthians agiu rápido. A maioria sabia que o Fernando Lázaro não ia continuar. O Duílio e o Alessandro contrataram o treinador o mais rápido possível, já para domingo, e agora terá uma sequência de Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores. O treinador é o Cuca e, por sinal, trabalhou duas vezes no São Paulo, duas vezes no Palmeiras, no Atlético-MG, no Goiás, no Fluminense, em uma série de clubes. Tem cinco títulos estaduais, dois brasileiros, uma Libertadores e é um baita treinador. O Corinthians agiu rápido e contratou um treinador muito bom. Tenho certeza que fará um grande trabalho”, afirmou Neto.
Se pensássemos apenas no aspecto desportivo, a contratação de Cuca seria realmente algo a se comemorar em um Corinthians que há 4 anos vive jejum de títulos e não apresenta um padrão tático. No entanto, o treinador escolhido convive desde 1987 com uma acusação de estupro e setores da torcida não querem a imagem do clube associada a ele. O caso do qual Cuca é acusado ocorreu em Berna, na Suíça, quando ele ainda era jogador de futebol. Na época, atuava pelo Grêmio.
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Bastou o elogio do Craque Neto à nova contratação para que as redes caíssem em cima dele, apontando contradições. Em termos gerais, as críticas dizem que Neto não utilizou o mesmo rigor que apresentou, corretamente, com os casos de Daniel Alves e Robinho, identificados com clubes rivais. “Será que Daniel Alves e Robinho chegam para reforçar o elenco?”, diz um comentário.
“Netão vinha bem nos comentários. Tinha parado de falar bobagem. Cobrou o Kaká pela hipocrisia, falou muito do Robinho, mas agora esqueceu do passado do Cuca”, diz outro internauta.
“É sempre assim, quando é com algum amigo não acontece nada, não falam nada, fingem que o estupro coletivo de uma criança nunca aconteceu, fingem que ele nunca mais pisou na Suíça, ficam falando que a vítima não o reconheceu, sendo que a vítima era uma criança”, analisou uma internauta indignada com a situação.
O Escândalo de Berna
Em março de 2021, depois de mais de três décadas de silêncio, Cuca resolveu falar sobre a questão polêmica, conhecida como o “escândalo de Berna”, em entrevista exclusiva para Marília Ruiz, colunista do UOL.
“Eu preciso dar um basta nisso. Claro que essa história me incomoda demais. Não posso virar bandido depois de 34 anos. Resolvi juntar minha mulher e minhas duas filhas para falar desse caso de 12.400 dias atrás porque sou inocente”, declarou o técnico.
“Não fui julgado e culpado. Fui julgado à revelia, não estava mais no Grêmio quando houve esse julgamento com os outros rapazes. É uma coisa que eu tenho uma lembrança muito vaga, até porque não houve nada. Não houve estupro como falam, como dizem as coisas. Houve uma condenação por ter uma menor adentrado o quarto. Simplesmente isso. Não houve abuso sexual, [não houve] tentativa de abuso ou coisa assim”, garantiu
Em julho de 1987, o então atacante Cuca, o ex-goleiro Eduardo, o ex-zagueiro Henrique e o ex-atacante Fernando foram presos em um hotel suíço. A acusação? Violência sexual contra pessoa vulnerável, que era uma adolescente de 13 anos.
De acordo com a colunista, os registros policiais e os autos do processo não falam, em momento nenhum, que a vítima identificou ou apontou Cuca como um dos seus agressores.
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Os quatro ficaram cerca de um mês presos no país europeu. Após intervenção diplomática, todos acabaram libertados e retornaram ao Brasil. Porém, dois anos depois, foram julgados e condenados à revelia. Para Cuca, a pena foi de 15 meses de detenção, que prescreveu antes de ser cumprida.
Cuca se explica
Cuca contestou: “Sou uma pessoa do bem, vivo numa família de mulheres, 90% da minha família são mulheres. Esse episódio de 1987 precisa ser explicado. Eu estava no Grêmio havia duas ou três semanas apenas, não conhecia ninguém. Eu jamais toquei numa mulher indevidamente ou inadequadamente. Sou um cara de cabeça e consciência tranquilas. Tenho a consciência tranquila”, ressaltou o técnico.
Para relembrar a entrevista, já que o tema voltou à tona com o anúncio da contratação de Cuca pelo Corinthians, Marília fez uma postagem sobre o caso.
“No mundo que ignora o que diz a vítima, eu leio, apuro e relato: ela nunca reconheceu Cuca como agressor. Eu não estava lá, mas considero o testemunho dela, apesar de o julgamento à revelia ter condenado Cuca e outros jogadores há 36 anos”, tuitou.